Resumen de Oriente Médio.- A Flotilha da Liberdade, para a qual centenas de ativistas solidários de todo o mundo vêm trabalhando há vários meses, que deveria ter saído ontem, 26 de abril, do porto de Istambul para levar 5.500 toneladas de suprimentos muito necessários para o povo palestino de Gaza, que está sofrendo todos os tipos de escassez, fome, falta de medicamentos, etc., devido ao bloqueio total e ao genocídio imposto por “Israel”, foi paralisada. Os mais de 800 voluntários solidários estavam convencidos de que os três navios que compõem a flotilha iriam zarpar definitivamente (depois de vários adiamentos), porém, nesta sexta-feira, chegou a notícia de que seria quase impossível zarpar para Gaza.
Sabe-se, como se pode imaginar, que tal viagem não seria fácil, que tanto Israel quanto os Estados Unidos iriam pressionar de mil maneiras, e que já havia um histórico de flotilhas anteriores que também terminaram, em alguns casos, em frustração e, em outros, em tragédia, quando, em maio de 2010, o navio Mavi Marmara foi abordado e atacado pelo exército sionista, causando 9 mortes, incluindo um jornalista. Apesar das dificuldades, desta vez, parecia que a travessia seria possível, embora no decorrer desta semana alguns voluntários tenham indicado que estavam aguardando permissão do governo turco para sair. Posteriormente, “Israel” emitiu um ultimato dizendo que, se a flotilha zarpasse e chegasse às águas que os sionistas consideram estar sob sua jurisdição, eles a atacariam.
De fato, na última quarta-feira, surgiram informações assustadoras para os organizadores da viagem. De acordo com a imprensa norte-americana, Tel Aviv havia encarregado a Shayetet 13, uma unidade de elite de sua marinha, de realizar o ataque. O repertório de armamento que se espera que esteja à disposição deles é variado. Fala-se em gás lacrimogêneo, tasers e granadas de atordoamento. Este último dispositivo emite uma luz potente que impede a visibilidade por segundos e, ao mesmo tempo, emite sons agudos (acima de 170 decibéis) que impedem a audição.
Além disso, o treinamento também nomeia drones de reconhecimento equipados com inteligência artificial, capazes de registrar os rostos dos passageiros e “cruzá-los com um banco de dados de membros e colaboradores do Hamas”. Eles também alertaram que alguns desses drones poderiam ser qualificados para disparar no caso de uma partida ou de uma ameaça percebida. Em outras palavras, toda uma parafernália de guerra contra um grupo de civis pacíficos. Uma das muitas ameaças, com perigo de concretização, que o governo do genocida Netanyahu sabe muito bem como montar para demonstrar que tem total impunidade para agir nesses casos.
Finalmente, a desculpa usada para impedir a viagem foi um tanto banal: como se sabe, os navios que zarpam devem sempre levar a bandeira de um país e, nesse caso, um deles, o “Adkeniz”, levava a bandeira da Guiné-Bissau. Por isso, na quinta-feira, inspetores desse país africano chegaram inesperadamente para registrar os navios. O procedimento foi meticuloso e, como era de se esperar, tudo estava em ordem, mas, inexplicavelmente, o resultado foi que a Guiné-Bissau não autorizou o uso de sua bandeira. Não é difícil deduzir que a Guiné-Bissau agiu, nesse caso, como intermediária para aqueles que realmente querem impedir que a flotilha deixe o porto turco.
Ann Wright, porta-voz da Flotilha, anunciou mais tarde em uma reunião no Hotel Tugra: “Uma nova situação surgiu hoje. O governo israelense pediu ao governo da Guiné-Bissau que removesse a bandeira do navio Adkeniz”, explicou a ex-coronel do exército estadunidense. “Não esperávamos tal inspeção, mas a Guiné-Bissau é o país que possui essa bandeira [marítima] e temos que aceitá-la”, reconheceram os organizadores. “Essas pressões são um sinal de que Israel está politicamente intimidado por nós”, disse Wright. Mas outros porta-vozes lembraram que, em março passado, o presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, reuniu-se com o presidente sionista Isaac Herzog, e os dois mostraram sua “profunda amizade” ao mundo. Essa é uma imagem mais clara.
Dito tudo isso, Israel, cujo descrédito internacional por crimes contra a humanidade cometidos em Gaza e na Cisjordânia ocupada atingiu níveis excepcionais, usou todos os recursos possíveis para impedir a navegação da flotilha. E, até agora, está tendo sucesso.
Do Resumen de Oriente Médio, falamos por telefone com o médico Carlos Trotta, que nos contou sobre o sentimento de raiva que as más notícias que impedem a viagem geraram entre os viajantes da Flotilha, mas ao mesmo tempo reiterou que as ações de solidariedade com o povo palestino devem ser multiplicadas ainda mais.
Por fim, os organizadores da viagem convocaram uma coletiva de imprensa para este sábado para informar todos os detalhes desse acúmulo de pressões e, em seguida, haverá uma grande marcha pelas ruas de Istambul para denunciar Israel e redobrar a solidariedade com a Palestina e seu povo.