“Eu não sei dizer; Nada por dizer; Então eu escuto. Se você disser; Tudo o que quiser; Então eu escuto. Lá, lá, lá, lá, lá, lá. lá, lá, lá; Fala”. (Secos & Molhados)
Quem lidera, fala. Não cala.
Significa se expor. Não calar.
Quando todos sabemos que se calar é sempre, aparentemente, mais fácil, que opinar.
a. Lula, liderança nacional, e agora, cada vez mais, internacional, reforça sua posição de líder, se acerta.
(Eu, particularmente não acredito na infalibilidade lulal, tal como haveria, no catolicismo, a Infalibilidade Papal)
b. Em qualquer caminhada coletiva, se arrisca, quem vai na frente. Se quem lidera, vai na frente, desliza, ensina quem vem atrás a não cair no mesmo buraco. Observando quem vai na frente, a gente aprende, pelo menos, a não cometer o mesmo erro. Por isso lidera que lidera. E está atento, quem estiver. Se agradece, ao líder, por educação.
Por certo, conheço dois tipos de liderança: um, pela própria vontade e, a outra, mesmo contra a própria vontade, de forma “natural”. Como, cada vez mais, acredito na compatibilidade das coisas, creio que Lula assume ambos os tipos de liderança. Primeiro, porque gosta do ofício, da política; e, logo, porque a vida lhe empurrou para isso, para chegar até Aqui.
Em seguida, falarei de emoção e de razão. Minhas percepções pessoais. O que eu sinto.
Política é vida. É a arte de equilibrar emoção e razão, nessa ordem de prioridades, para mim.
a. Lula fala mais a partir da emoção do que da razão. E isso é algo que o tradicionalismo político, conservador, reacionário, detesta.
A emoção é mais feminina, intuitiva, subjetiva, transcendental. Mais mulher.
A razão é mais patriarcal. A razão é mais consoante com a política atual, que historicamente se construiu em bases patriarcais. Mais macho. Mais violência. Menos Cuidado (do verbo Cuidar).
A emoção também pode enganar, mas mente menos. A razão tem mais a ver com dissimular.
A emoção é mais direta, assertiva, empática. A razão é mais estratégica, fria, calculista.
Mas nada nunca é tudo, absolutamente.
Muitas vezes, se equilibram, emoção e razão. Outras, não. São compatíveis. Isso, sim.
As filosofias orientais, por exemplo, basearam-se durante milênios na busca desse equilíbrio.
Há pessoas que o conseguem e se beneficiam desse mérito. Outras não. Lula, sim.
b. Lula é astuto. Muito. Não dá ponto sem nó. Nunca fala somente a partir da emoção (embora a priorize, até porque é quase sem querer). Opino que ele, Lula, sim, conjuga, de forma compatível, sua expressão passional, com uma imensa capacidade política (que é Vida, não esqueça desse pressuposto, para mim). Astúcia política essa, que lhe trouxe até Aqui.
Toda a esquerda brasileira, por exemplo, está a mais de três décadas debatendo se as falas de Lula são uma coisa ou outra. Essa tem sido uma pauta subjetiva, subliminar, da política brasileira. É o que está ocorrendo atualmente, mas sempre de forma crescente.
(e vou deixar para um próximo texto a minha controversa opinião sobre a importantíssima fala recente de Lula, sobre uma jovem negra, que deu muito o falar; mais pelo que ele Não Disse, do que pelo que Lula disse. Outra extraordinária capacidade que ele tem e que já abordei em outros textos)
Por dois detalhes importantíssimos, como diz Dilma: se Lula fala, quando cala, porque então não ser mais assertivo e falar, sim, mas não somente “por falar”?
Primeiro. Lula nunca é o mesmo Lula. É Dialético. Erra, aprende, erra. Ou acerta, erra, e acerta. A ordem dos fatores altera o produto. Lula é nada mais que o fruto de todas as experiências vividas por Lula.
Segundo, porque Lula cresce, a cada minuto. Com a declaração de apoio à Palestina, por exemplo, deu um salto de qualidade imenso no seu crescimento exponencial como liderança mundial.
Sabia, Lula, disso? Essa é uma das poucas certezas que eu creio que sim.
a. O depoimento foi na África, depois de estar em contato com as principais lideranças do eixo sul e do eixo oriental, em nível mundial. Lula sabe onde pisa, como ninguém. Porque poucos políticos brasileiros já pisaram em terras tão distintas e tão distantes quanto ele.
b. Lula sabe quem o bajula, quem o quer esfaquear pelas costas e quem lhe assessora, lhe informa, lhe ensina, lhe proporciona suficiente informação para tomar decisões importantíssimas, cada santo dia. O depoimento foi dado depois de estar em contato com o que eu chamaria de “diplomacia lulista” + “diplomacia antibolsonarista”, mais além das paredes oligárquicas do MRE (e de alguns quantos enrustidos bolsonaristas; ou quem aqui não sabe ainda que o bolsonazismo segue vivo?). Falou bem longe do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, subordinado ao Presidente. O mesmo MRE que, aristocrático, tem mimimi, nojinho, diante dessa subordinação ao presidente que não veio da elite, como esteve sempre acostumado o conservadorismo diplomático.
c. Lula sabe, como ninguém, acenar para gregos e troianos, mesmo sem dúvida nenhuma sobre: 1, quem lhe tem simpatia; 2, por quem Lula nutre mais empatia; 3, que lhe tem menos ódio capitalista.
O depoimento foi dado, consciente do xadrez internacionalista: como está a coisa no mundo, na Palestina, em Rafah (agora mesmo), na construção secreta do campo de refugiados (novo campo de concentração) no Egito, na Liga Árabe, na Ucrânia, na morte de Navalni na Sibéria, de olho nas pesquisas para as eleições iminentes nos Estados Unidos e na União Europeia, etc.
d. Lula tem capacidade inigualável, além de boa assessoria, para manter olho na missa e outro no padre. A milhares de quilômetros de distância, Lula segue aprendendo sobre um fenômeno geopolítico recente: como a opinião pública internacionalista pode incidir sobre a conjuntura política nacional.
Em outras palavras, como o fascismo avança e se coordena em nível mundial, a luta antifascista não vacila. Os tempos coordenados, principalmente em relação à mídia golpista (sempre golpista) brasileira, não mentem: o novo ato golpista convocado por Bolsonazi diminuiu-se de destaque nas manchetes: E Lula cresceu (falem bem ou falem mal, mas falem de mim). Além de que Alexandre de Moraes convocou o inelegível para depôr na PF, entre outros fatores internos da política brasileira.
e. Por último, mas não menos importante, Lula é complexidade pura. A melhor telenovela já escrita pela vida política brasileira. Dá ou não dá vontade de assistir as cenas dos próximos capítulos?
Se gostou, me siga.
Aquele abraço.
E, sem supostas (inexistentes) neutralidades: #freepalestine #boicotisrael #tôcomlula
Flavio Carvalho, Barcelona, 20 de fevereiro de 2024.
@1flaviocarvalho, sociólogo e escritor.
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