“O Drex não é uma criptomoeda, é uma moeda digital”, explica Adriano Sampaio, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro do Grupo de Pesquisa em Finanças e Desenvolvimento (Finde/UFF). Em outras palavras: o Drex é o real, moeda oficial brasileira, em formato digital.
Quanto vale 1 Drex?
Diferente de criptoativos, que são fontes de aplicação de investimentos, que têm uma variação de valor, o Drex terá sempre uma paridade fixa ao real, ou seja, um Drex será sempre equivalente a um real.
Entretanto, o funcionamento da nova ferramenta desenvolvida pelo Banco Central do Brasil não será idêntico ao Pix, por exemplo. “O uso dessa moeda digital é pensado para uma série de transações digitais“, diz Sampaio.
A ideia é tornar os contratos, chamados “contratos inteligentes“, mais seguros na execução deles mesmos.
“Hoje, quando você vende uma casa, você precisa de um intermediário para garantir que eu estou fazendo um pagamento e vou receber a propriedade daquela casa. Com o contrato inteligente, isso é feito automaticamente. Eu posso depositar o dinheiro na hora que eu quiser. Mesmo que a pessoa só faça a transferência (da documentação do novo proprietário) depois, o dinheiro não é liberado enquanto ela não fizer a transferência”, explica Sampaio sobre os contratos inteligentes.
Essa ação, segundo o economista e professor da UFF, é automática. “No momento que a pessoa fizer a transferência e o dinheiro já estiver na conta, a transação é concluída. Se eu pagar e a pessoa não fizer a transferência, o dinheiro não vai para a pessoa. Então, o Drex vai ser usado para pagamentos digitais, para negociações digitais”, completa.
A implementação da modalidade está prevista, segundo o economista e doutorando em economia na UFRJ, Jadson Alves, como projeto piloto já para o segundo semestre de 2024. “De acordo com o desenvolvimento do processo, pode ser que ele já entre em operação já no final deste ano ou no ano que vem“, comenta.
Quais as vantagens do Drex?
Além de facilitar transações financeiras entre pessoas, o Drex traz outros benefícios, conforme enumera o especialista.
“Temos desenvolvimento tecnológico na agricultura, na indústria, nos serviços, acho que com serviços financeiros não deve ser diferente”, pondera Alves.
De acordo com o economista, esse movimento feito pelo Banco Central brasileiro é uma tendência mundial. “Os bancos centrais em todo o mundo estão estudando as suas CBDCs, que é a Central Bank Digital Currency, ou seja, as suas moedas digitais. A ideia é que cada banco de cada país desenvolva as suas próprias moedas. Alguns poucos países já têm as suas moedas digitais, e, entre eles, a grande maioria — mais de 80 países —, já estão estudando a sua implementação”.
Além disso, o movimento de criação do Drex, o real digital, significa levar a moeda brasileira para dentro do ambiente virtual.
“Trata-se, portanto, de uma tokenização da economia como um todo. Você vê vários ativos que são ‘tokenizados’, nada mais justo que a moeda nacional também seja levada para o ambiente virtual, para que você possa ter ganhos tecnológicos oriundos do ambiente virtual, como a execução de pagamentos, de transações com a moeda nacional, só que em sua versão digital”, completa Alves.
Drex pode ter o mesmo sucesso do Pix?
Para Sampaio, a chance de alcance de sucesso mútuo é evidente, uma vez que cada vez mais as pessoas optam por compras e pagamentos virtuais.
“Vou comprar numa loja virtual ou um grande produtor vai vender a sua produção para uma outra empresa, para um distribuidor. Isso vai ser feito com o Drex”, exemplifica.
Pela certa adaptação que a sociedade tem em relação ao Pix, o professor da UFF acredita que o Drex não gerará um impacto “estrondoso” e pode até mesmo passar despercebido. “O Drex vai ser mais restrito, vai ser usado em plataformas digitais, então ele vai ter muita importância, ele vai ter suas funcionalidades, mas ele não vai estar ali presente no dia a dia de forma explícita, tanto quanto o Pix”.
Quando o Drex vai funcionar?
De acordo com Alves, alguns ajustes finos, como questões técnicas precisam ser aprimoradas para o pronto lançamento da plataforma.
“Acredito que o principal desafio hoje seja técnico, tanto é que tivemos alguns atrasos no cronograma da implantação do Drex. Depois, penso que será apenas uma questão de educação financeira, ou seja, fazer com que a população se sinta mais confiante de utilizar o Drex da mesma forma que ela se sente confiante de usar o Pix hoje.”
Já Sampaio analisa que questões de segurança e privacidade precisam ser revistas pelo Banco Central antes de disponibilizar a nova ferramenta.
“Você precisa de segurança para garantir que esses recursos não serão pedidos, ou que você faça um pagamento e o mesmo seja desviado, ou que esses contratos inteligentes não funcionem”, pontua.
Como as transações eletrônicas são rastreáveis, o economista e professor da UFF pondera que o governo e o Banco Central devem garantir o mínimo de privacidade para as transações com as moedas digitais.
“Qualquer um vai ter acesso? Qualquer empresa que queira fazer publicidade vai ter acesso ou só instituições financeiras? A recomendação do Banco de Compensações Internacionais é que a privacidade seja muito bem protegida e o acesso a esses dados seja muito bem regulamentado, muito bem justificado. Nenhum governo poderia ter acesso diretamente a esses dados, a não ser por um pedido”, explica.
Por que o nome Drex?
O Banco Central explica que o nome da nova ferramenta vem da combinação de letras em uma palavra com som forte e moderno, assim como feito com o pix. “As letras ‘d’ e ‘r’ fazem referência ao Real Digital, o ‘e’ vem de eletrônico e o ‘x’ traz a ideia de conexão, associada à tecnologia utilizada”.