Redação, Nós Mulheres da Periferia.
O Projeto de Lei 490/2007 de autoria do deputado Homero Pereira (PR/MT) altera a Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que regula a situação jurídica dos povos indígenas e das suas comunidades, com o objetivo de preservar seus direitos e a sua cultura.
Na última terça-feira (30), o PL foi aprovado pela Câmara dos Deputados na forma de um substitutivo, texto que altera substancialmente o conteúdo original da proposta apresentado pelo relator, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA). Agora a proposta seguirá para o Senado Federal para tramitação. O texto do PL 490/07 representa um retrocesso e uma grave ameaça aos direitos dos povos indígenas pois permite:
Fonte: Ministério dos Povos Indígenas |
E O MARCO TEMPORAL?
O PL 490 também fixa a tese do tão falado Marco Temporal, que, se aprovado, altera o direito às terras indígenas brasileiras, fazendo com que os povos indígenas só tenham direito às terras ocupadas quando da promulgação da Constituição, em 5 de Outubro de 1988. Além disso, de acordo com a Agência Câmara de Notícias o texto também vai:
Pois é, em síntese os povos originários que estão aqui desde antes do dito “descobrimento” em 1500 não terão mais direito ao que é seu por direito, o que representa um retrocesso sem precedentes. |
“ONDE PASSA UM BOI, PASSA UMA BOIADA”: QUEM SE BENEFICIA COM ESSE PROJETO DE LEI?
Você deve se lembrar da frase “vamos passar a boiada”, de autoria do então Ministro do Meio Ambiente na época, Ricardo Salles (2019 – 2021). O intuito era aproveitar o foco da sociedade e da mídia na pandemia do Covid-19 para mudar regras de proteção ambiental. O agronegócio, o garimpo, e os empresários que enxergam a floresta como um meio de enriquecimento são os principais beneficiados com esse desmonte ambiental que vem sendo orquestrado nos últimos anos. Segundo o Terras Indígenas no Brasil, pesquisas apontam que os povos indígenas ajudam a ampliar a diversidade da fauna e da flora local porque têm formas únicas de viver e ocupar um lugar. Afastar os indígenas é abrir as portas para exploração de muitos territórios e uma grave ameaça para o meio ambiente. |
COMO TUDO ISSO AFETA OS POVOS ORIGINÁRIOS? |
Sabe o “descobrimento do Brasil?”, pois bem, os povos originários, ou seja, o povo que deu origem ao Brasil já estava aqui antes da vinda dos portugueses para saquear nossas terras, violentar as mulheres indígenas, além de tentar impor por meio de muita violência a sua cultura e modos. Hoje esse mesmo povo luta e protesta nas ruas contra um retrocesso, o PL 490 e o Marco Temporal.
Em entrevista para o Nós, a liderança guarani Sônia Ara Mirim, falou a respeito da grave ameaça que esse projeto representa: “Essa PL, como nós sempre estamos falando, é a PL da morte. É uma PL que tira todos os direitos já conquistados pela Constituição de 1988. Então, ela tira direitos nossos, direito de vida, direito pela terra, direito de vivermos como povos indígenas, é uma PL muito perigosa. Mas o mais perigoso hoje é o marco temporal. [Se votado], o marco temporal tira todas as demarcações de terras já demarcadas, então, é um governo perigoso hoje que estamos vivendo”, disse Sônia. Os povos originários já sofrem muitas violações e essas possíveis mudanças podem intensificá-las. A crise sanitária envolvendo os povos Yanomami noticiada no começo deste ano é só a ponta do iceberg. O meio ambiente e os direitos básicos dos povos que já estavam aqui antes de qualquer lei estão sob forte ameaça. Estamos em estado de alerta, sabemos que além dos povos indígenas, as mulheres, as crianças e as populações periféricas são sempre os grupos mais afetados pois o racismo ambiental sempre atinge essa parcela da sociedade em cheio. |
COMO ISSO AFETA VOCÊ E O MEIO AMBIENTE? |
Se aprovado também no Senado, o PL 490 pode abrir territórios indígenas para a exploração econômica e ainda dar brechas para a retomada de terras indígenas em caso de alterações de “traços culturais da comunidade”. Como disse Sônia Ara Mirim, uma das lideranças das terras indígenas do Jaraguá em entrevista ao Nós, “todo o Brasil é terra indígena”, e essa discussão em torno das demarcações nem deveria ocorrer, já que quando o Brasil foi invadido, em 1500, os diversos povos indígenas já estavam aqui.
Segundo a indígena Katumirim, “a demarcação de terras indígenas não beneficia apenas os indígenas, que conseguiram preservar sua cultura e identidade, mas também a preservação da natureza”. Sem natureza de pé, não sobra nada. Ela explica que os indígenas são responsáveis por supervisionar grande parte da biodiversidade do mundo. No Plenário da Câmara, várias deputadas e deputados que são contra o projeto de lei fizeram alertas sobre os riscos que tal medida pode trazer:
Também não podemos esquecer que as mulheres e crianças são o grande alvo dos crimes ambientais no Brasil. O relatório da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostra que 40 milhões de crianças brasileiras estão expostas a mais de um risco climático ou ambiental, como poluição do ar e contaminação de rios que podem gerar diversos problemas de saúde como vimos o caso das crianças Yanomami que morreram por conta de doenças como pneumonia, diarreia e desnutrição que foram fruto do avanço do garimpo ilegal na região. Já o relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) relaciona a violência contra mulheres e meninas com a crise climática: “As mudanças climáticas e crises e desastres ambientais afetam desproporcionalmente mulheres e meninas, em particular aquelas em situações vulneráveis ??e marginalizadas. Por sua vez, a desigualdade de gênero e o acesso desigual das mulheres à terra e aos recursos naturais, finanças, tecnologia, conhecimento, mobilidade e outros restringem a capacidade das mulheres de responder e lidar em contextos de crises climáticas e ambientais e desastres”, destaca o relatório. |