Por Briann Ziarescki Moreira, UNA LGBT Oeste.
Contradição. Segundo o dicionário Michaelis, o termo significa uma incoerência entre afirmações atuais e anteriores, entre palavras e ações. Um exemplo? O Artigo 5º da Constituição Federal garante a todos os brasileiros a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, ao passo que, de acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil continua a liderar o ranking dos países que mais matam LGBTQIA+. Como explicar algo tão contraditório?
No mês de junho é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBT, momento que marca a luta pelos direitos em todo o mundo. Mas essa data, que deveria ser repleta de celebrações, é um lembrete anual que os direitos da população LGBTQIA+ são constantemente invalidados e estão longe do que deveriam ser.
6ª Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense
É nesse contexto que, ano após ano, milhares de pessoas tomam as ruas em busca dos direitos a elas resguardados pela lei. Em Chapecó, a 6ª Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense ocorrerá no dia 25 de junho, às 15h, na praça Central da cidade. Gerson Naibo, presidente da UNA LGBT de Chapecó, declara que mais uma vez as ruas serão tomadas pelas cores, bandeiras, diversidade e alegria da população LGBTQIA+.
“Mostraremos para todos que a diversidade precisa ser de acesso democrático e é por esse motivo que é necessário que ela seja expressa nas ruas da cidade, como um espelho que reflete as cores e as lutas do nosso povo. E assim faremos, como já vem sendo feito historicamente. Dessa construção, só nos restam boas memórias que estão enraizadas em nossos corações”, diz.
Temática plural
Gerson pontua que o tema escolhido para a Parada deste ano condiz com o contexto político e econômico atual. “Escolhemos saúde, educação e trabalho, pois são direitos humanitários e universais que se unem em um tripé basilar da sociedade que para muitos de nós é negado. Por esse motivo precisamos olhar para esses temas de forma emergente e profunda”, defende.
O presidente frisa que a luta é para que, quando a população LGBTQIA+ procurar por esses serviços e atendimentos, se possa ter abordagens mais humanas e acolhedoras. “É preciso que tenhamos respeito às diferentes formas de ser e existir, tendo nossos direitos básicos garantidos. Sabemos que o preconceito é estrutural, mas estamos aqui para repensar essas estruturas e buscar uma sociedade mais humana e eminentemente plural”, salienta.
Pelo acesso à educação
Segundo o vice-presidente da UNA LGBT de Chapecó, Mario Harres, dentre as bandeiras defendidas pela entidade, a igualdade e não-discriminação, saúde mental, representação e visibilidade, acesso igualitário a serviços de saúde, emprego, educação, habitação e outros recursos, são igualmente essenciais a vida.
“Paulo Freire passou a vida defendendo que é a partir da educação que as pessoas coletivamente se emancipam e fazem frente às opressões sistêmicas do capital. A educação desempenha um papel fundamental na redução do preconceito e da discriminação. Mas de qual educação e espaço escolar falamos?”, questiona.
Mario aponta que é preciso pensar a partir de ambientes escolares inclusivos onde as pessoas se sintam acolhidas, respeitadas e seguras. “Isso perpassa por ações afirmativas antidiscriminatórias, como a garantia do nome social para pessoas T, diálogo constante, formação para trabalhadores em educação generalizada, promoção da cultura da paz dentro da escola e inclusão de aulas e espaços de aprendizagem que falem sobre direitos humanos e inclusão”, observa.
Para Mario, desse modo, além de garantir o acesso à educação, será garantido a permanência das pessoas LGBTQIA+ nos espaços escolares. “Uma educação que tenha como princípios fundamentais a emancipação, diversidade e inclusão, é uma educação que defende um mundo equânime e igualitário e é precisamente desta que a parada deste ano quer falar”, afirma.
Pelos trabalhadores
De acordo com pesquisa realizada pela UNA LGBT de Chapecó sobre empregabilidade LGBTQIA+ na região, 46% dos entrevistados já sentiram ou sentem dificuldade em encontrar trabalho, sendo que, destes, 23% afirmaram que a causa é preconceito por serem LGBTQIA+ e 61% declararam já ter sofrido algum tipo de preconceito no ambiente de trabalho. Nesse viés, 38% disseram não se sentir confortáveis em assumir a identidade de gênero e/ou orientação sexual no trabalho.
Para Liliane Araujo, membro da direção da UNA LGBT de Chapecó, a Parada deste ano decidiu usar a visibilidade deste dia para dar destaque também ao trabalho, pois ele é uma das bases sobre a qual se ergue e se sustenta a cidadania. “A comunidade LGBTQIA+ ainda luta todos os dias por direitos. O mercado de trabalho ainda é restrito, principalmente às pessoas trans e travestis”, assevera.
Liliane enfatiza que ainda existe receio por parte das empresas em terem a marca vinculada a pessoas LGBTQIA+. “Se há um alto número de desempregados no país é preciso que se compreenda quem são as pessoas com mais dificuldade de acessar o mercado de trabalho e por que isso acontece”, conclui.
Por viver com saúde
Em dezembro de 2011, o Ministério da Saúde apresentou a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. O documento foi um divisor de águas para as políticas públicas de saúde no Brasil, além de ser um marco histórico de reconhecimento das demandas desta população em condição de vulnerabilidade.
Entretanto, uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), demonstra que 31% da população LGBTQIA+ é atendida no que é considerado hoje o pior acesso à saúde no país, enquanto entre os não-LGBTQIA+s essa porcentagem cai para 18%.
Segundo Eduardo Zardo, membro da direção da UNA LGBT de Chapecó, o direito à saúde é uma conquista social que depende de muita luta. “Embora a saúde seja reconhecidamente um direito universal no nosso país, a população LGBTQIA+ ainda tem dificuldades de acesso pleno e humanizado”, destaca.
Eduardo frisa a importância de se levar às ruas uma temática como saúde na 6ª Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense. “Queremos efetivar a política de saúde integral da nossa população de forma universal, integral e equânime”, finaliza.
Legenda: A 6ª Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense será realizada no próximo dia 25, às 15h, na praça Central de Chapecó
Créditos: Briann Ziarescki/UNA LGBT Chapecó
Cronograma de ações da UNA LGBT Chapecó no mês do orgulho
03/06 às 16h |
Sessão do Cineclube Humana debate a obra de um dos mais importantes artistas gays da América Latina, o chileno Pedro Lemebel. Em exibição, o filme Tengo Miedo Torero.
Local: Café Brasiliano (entrada franca) |
07/06 às 19h |
Entrevista: Não temos que temer os: Fascistas, Racistas e os conservadores no Estado de SC. Temos que lutar!
Evento online transmitido pelas páginas do Facebook e Youtube da Kombi Livros Marcelino Chiarello. |
24/06 |
Formação sobre a política de saúde integral da população LGBTQIAP+ em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. O público será composto por estudantes de graduação e preceptores do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde).
Local: UDESC |
25/06 às 15h | 6ª Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense.
Local: Praça Central de Chapecó |
28/06 às 19h |
Entrevista: LGBT – Produção Cultural
Evento online transmitido pelas páginas do Facebook e Youtube da Kombi Livros Marcelino Chiarello. |