A política e a comunicação. Por Elaine Tavares

Precisa criar canais por onde as produções da sociedade organizada possam se expressar, garantir que haja soberania também na comunicação.

Foto: Cdte. Hugo Chávez no programa Alô Presidente.

Por Elaine Tavares.

Nos tempos que correm a primeira batalha que se tem de vencer é a da comunicação. Se a informação correta e clara não chegar às pessoas elas estarão consumidas pelas mentiras que viraram moeda corrente nas redes sociais. Mente-se sobre tudo. E como se não bastassem as mentiras sobre a política e a vida, ainda é preciso cautela com as mentiras que chegam travestidas de anúncio, levando milhares de pessoas a golpes. Não há qualquer controle sobre isso. Pelo contrário. Estimula-se. E os seres conectados passam horas inteiras mergulhados nessa profusão de doidices que consomem não só os neurônios, mas também os parcos recursos que têm.

É por isso que não dá para brincar com a comunicação. Isso é coisa séria.

É bastante dramático observar que pessoas sérias cogitem pensar a comunicação do governo atual, por exemplo, com as táticas do Janones usadas durante o período eleitoral. Ora, a lógica naquele então era usar dos mesmos artifícios da ilusão e do engano para colocar medo no adversário. Isso não tem muito cabimento.

A comunicação precisa ser pensada numa totalidade. Trago aqui então, o exemplo de Hugo Chávez, mestre do carisma e da soberania comunicacional. Tão logo se elegeu tratou de se articular com a rede de comunicação popular que já existia e tanto que foi essa rede a que garantiu a resistência ao golpe de 2002. E, depois da tentativa frustrada do golpe, Chávez resolveu atuar com mais força nesse campo. Depois de muito debate público criou uma lei das comunicações que regulamentava as redes privadas comerciais e que garantia recursos para a produção independente em todo o país. E não ficou nisso. Criou espaços de divulgação massiva (como redes de televisão públicas com alcance nacional) para essas produções, além de muitas outras novidades que impulsionaram a comunicação popular e de qualidade.

Mas seu pulo do gato foi o chamado tête-à-tête. Criou um programa dominical, o “Alô Presidente” que era divulgado nas televisões públicas. Nele, Chávez conversava com a nação. Explicava as leis, os acordos internacionais, dava conta de cada passo de seu governo, os acertos, os erros, tudo. E ainda se abria para reivindicações que podiam ser feitas ali, ao vivo. Quando os temas eram bem cabeludos ele fazia o programa no Teatro Tereza Carreño, onde cabia muita gente. Era um programa de massas. Sua política era explicar tim-tim por tim-tim, tudo às claras, sem delongas. Isso permitia que a população pudesse saber exatamente o que estava acontecendo no governo, sem mediações. A informação chegando em primeira mão.

Esta é uma prática que deveria ser usada. Não as estratégias enganosas dos inimigos, as quais sabemos muito bem onde querem chegar: na ignorância sobre a realidade. Um governo verdadeiramente preocupado em informar bem deve falar com seu povo, massivamente. Precisa criar canais por onde as produções da sociedade organizada possam se expressar, garantir que haja soberania também na comunicação. No caso do Brasil, Lula, que também tem um grande carisma popular, poderia aprender essa lição dada por Chávez: a melhor maneira de bem informar o povo é discutir com ele os passos dados, um a um. Olhando nos olhos das gentes esclarecer sobre os grandes e pequenos temas de interesse da nação. Não seria a Globo, nem a Record, nem as mensagens do uatizapi, mas a palavra do presidente. A fonte primária.

Chávez na verdade não foi o inventor dessa beleza. Quem consolidou essa prática foi Fidel, com seus discursos de horas nas praças de Havana. Foi assim que ele garantiu o sustento de uma revolução, expondo ao povo os passos do governo, discutindo com as gentes, colocando o povo pra pensar e decidir junto. E foi assim também que Chávez ergueu o processo bolivariano que ainda vive.

Logo, não há segredos na comunicação. Há que se falar a verdade e estabelecer canais massivos de diálogo. A parada é simples. Mas, será que o governo está disposto a abrir-se para isso? Bom, deveria estar. É a única maneira de vencer a mentira. Com a verdade e a exposição clara dos fatos.

Elaine Tavares é jornalista do IELA/UFSC, radialista e diretora de Pobres&Nojentas.

 

 

 

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