O governo Lula e a questão indígena. Por Roberto Liebgott.

Nestes mais de 60 dias, no que se refere aos povos indígenas, foram adotadas três medidas político-administrativas de impacto e repercussão.

 

Lula com lideranças indígenas na COP 27. Foto: Ricardo Stuckert

Por Roberto Liebgott, Equipe Cimi Sul-POA

Tomo a liberdade de tecer alguns breves comentários acerca do atual contexto da política indigenista. Os objetivos destas observações são no sentido de auxiliar no debate sobre o que se observa na politica em curso e o que se espera dela.

Completou dois meses de governo novo. Nestes mais de 60 dias, no que se refere aos povos indígenas, foram adotadas três medidas político-administrativas de impacto e repercussão:

1- a criação do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e mudança no nome da
Funai, passando de Fundação Nacional do Índio, para Fundação Nacional dos Povos Indigenas;

2- as nomeações de indígenas para os cargos de chefias em Brasília, tanto no MPI como na Funai;

3- e a adoção de medidas emergenciais sanitárias aos Yanomami, em função da invasão garimpeira e seus nefastos e brutais impactos.

Os gargalos, ou as questões que se impõem, neste momento, e que precisam de soluções ou deliberações:

1- definição das estruturas das coordenações regionais, distritais e locais da Funai e Sesai, bem como a composição das novas chefias;

2- identificação das demandas territoriais e dar os encaminhamentos quanto a conclusão das demarcações paralisadas – e criação dos GTs para proceder às identificações das terras reivindicadas pelos povos e comunidades;

3- implementação de programas emergências para enfrentar as graves crises sanitárias e nutricionais nas comunidades que vivem sem terra, em acampamentos ou áreas degradadas;

4- enfrentar – em articulação Funai, Sesai, MPF, PF, DPU, CNS CNDH e outros- os problemas das invasões e violências contra os territórios e comunidades;

5- posicionar-se firme e veementemente contra a tese do marco temporal e todos os projetos de leis em tramitação no Congresso Nacional, que visam agredir os direitos indígenas no país;

6- tornar a Funai capaz de intervir e auxiliar às comunidades em retomadas de terras, tanto do ponto de vista jurídico, como no apoio e garantias assistenciais;

7- romper com os projetos de arrendameto de terras e todos as demais formas de esbulho, bem como a revogação imediata da Instrução Normativa 09, que favorece a certificação e concessão de títulos de terras aos invasores;

8- reorganizar a estrutura e política da educação escolar indígena, completamente descaracterizada.

Quanto ao movimento indígena organizativo vai ser necessário uma revisão de suas estratégias de luta, buscando, agora, retomar o protagonismo fora do governo, já que muitas lideranças estão nas estruras da nova governança e na nova forma de pensar a política indigenista, especialmente, articulada a partir das mulheres indígenas que se destacaram nas suas organizações locais, regionais e nacionais.

Porto Alegre, RS, 06 de março de 2023.


Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.

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