Militares do Exército tinham grupo de WhatsApp com garimpeiros para avisar sobre ações no território Yanomami

Relatórios mostram a inação de Marcelo Xavier, alçado ao comando da Funai por Sergio Moro, e o conluio de militares da região. Em 1992, Bolsonaro apresentou decreto para impedir a demarcação do território Yanomami.

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O conluio de parte signinficativa do Exército com o projeto predatório de Jair Bolsonaro (PL) se estendeu ao território Yanomami, onde centenas de crianças morreram e muitas estão sendo resgatadas para tratamento médico diante das inações do ex-governo para promover um genocídio da população indígena na Amazônia.

Dois relatórios preliminares de inteligência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) feitos em 2019 – e divulgados nesta quinta-feira (26) pela Folha de S.Paulo – revelam que militares do Sétimo Batalhão de Infantaria da Selva (BIS), do Exército, estavam em um grupo de Whatsapp com garimpeiros para avisar sobre ações que seriam desencadeadas na região Yanomami.

Parentes de garimpeiros, os militares do batalhão do Exército chegaram a flagrar tráfico de ouro, crack, pasta base de cocaína e armas, que teriam sido liberadas, sem a abertura de nenhum inquérito pra aprofundar as investigações.

Os relatórios ainda mostram a atuação de integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, no território Yanomami, atuando com tráfico de drogas e transporte de minerais retirados ilegamente da região.

Segundo a Folha, relatos de indígenas e garimpeiros listam nomes, patentes e até o número de telefone celulgar dos militares que recebiam propina para avisar sobre as ações na região.

“[Meu chefe] possui diversos militares comprados que trabalham como informantes. [Eles] permanecem passando informações das operações para ele, oriundas de Manaus”, diz um dos depoimentos, que aponta a atuação de um terceiro sargento do Exército.

Em outro depoimento, há o relato de que um homem separa dez gramas de ouro por mês para pagar “militares que entregam informações sobre as operações” e avisam “quando [os soldados] entram [na TI] e quando saem, e como entram e quantos são”.

Os relatos são de julho e agosto de 2019, quando o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, ligado a ruralistas, foi escalado pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro (União), para presidir a Funai.

Projeto de extermínio

Reportagem de Carlos Madeiro, no portal Uol nesta quinta-feira (26), revela que o anseio pelo extermínio do povo Yanomami é um projeto antigo de Jair Bolsonaro (PL).

Em 1992, quando ainda perambulava pelas margens do Congresso Nacional, Bolsonaro apresentou um decreto legislativo que pretendia revogar portaria do Ministério da Justiça que demarcou a Terra Indígena Yanomami.

Com base nas informações de militares, Bolsonaro justificou o decreto dizendo que seria necessário, para “defesa do território nacional”, uma faixa de 150 km de distância da fronteira —área do território indígena.

Assim como no livro A Farsa Yanomami, publicado em 1995 – quando o decreto foi arquivado pela Câmara – pela Biblioteca do Exército, Bolsonaro questiona até mesmo a existência de Yanomamis no Brasil.

“O total de índios encontrado pela Funai é realmente brasileiro ou venezuelano? Afinal a área demarcada é fronteira demarcada, e o índio tem atividade nômade”, afirmou na justificativa do projeto.

No livro, o coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto diz que o Exército tinha medo de perder soberania em áreas da Amazônia brasileira e classifica os indígenas como fictícios ‘ianomâmis’.

A tese defendida é que há um conluio entre ONGs e forças estrangeiras para “separar do Brasil” o território indígena, “cedê-lo aos fictícios ‘ianomâmis’ e “preparar a dominação futura da Amazônia […] para a posterior criação de países indígenas independentes, sob a tutela das Nações Unidas”.

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