Uruguai: A prisão da ditadura em Punta de Rieles completou 50 anos de inaugurada. Por Cecília Gianlupi

 

Cecilia Gianlupi – Youtube

A prisão de Punta de Rieles

Aquel EMR Nº2

Por Cecília Gianlupi (foto).

[“Hoje vou deixar as portas e janelas da minha casa abertas… E a noite vai entrar por todas as janelas da minha casa, por todas as janelas de todo o bairro, por todas as janelas de todos os quartéis e de todos os prisões (…) deixarei as portas e janelas da minha casa abertas para sempre.” A.Zitarrosa]

(Prisão Punta de Rieles)
Nesta segunda-feira, 16/01, relembramos os 50 anos da transformação de um antigo local religioso, em presídio da ditadura cívico-militar.

Primeiro, por um período muito breve, abrigou presos de ambos os sexos, depois passou a ser apenas para mulheres Mvdo. e, finalmente, de todo o país.

Mais ou menos, cerca de mil mulheres conheceram sem anestesia aquele labirinto maquiavélico onde os algozes chegavam de farda, com o rosto descoberto, ostentando medalhas e aplicando torturas desde o local de regulação, abuso de poder, sanção, isolamento, estudo minucioso dos casos e pessoas com o desejo de destruição psicológica, assédio e abuso de famílias, idosos e crianças, trabalho forçado obviamente inapropriado para mulheres, ameaças e, eventualmente, tortura e abuso físico, novamente. Eu seguiria uma longa lista. Tudo o que se possa imaginar e muito mais entra nessa história. Ninguém que viveu isso esquece. E ninguém sai igual como entrou.

Mas quem ali viveu soube encontrar o melhor antídoto para o terror, na solidariedade e na camaradagem, na alegria de viver, apesar de tudo, sempre, a teimosia, a ternura, o canto, a leitura de cartas e livros, a representação teatral, o caminhar de braços dados em recreio, e tudo o que ilumina, a luz do que é natural e saudável. Amar? Sim. Alfredo diria: “amar sem dúvida”. Ao ser humano, à dignidade, à vida. E uma ética.
Já com 50 anos, essas irmãs estão velhas, e muitas já não vivem.

Não se trata de “comemorar” 50 anos de prisão. Mas para lembrar. Parando para lembrar e celebrar, sim, o triunfo do saudável sobre o tortuoso. Diga aos filhos e descendentes como é essa questão de dignidade e vida e o que não deve acontecer novamente. Este último sendo de crucial importância hoje, quando vivemos o pesadelo de uma nova investida do fascismo, aqui e no mundo.

Por isso, aqueles que tiveram a infelicidade de serem vítimas, mas a sorte de sobreviver, devem contribuir com pedaços de memória. Sem parar. Sendo a gota que cai independente de nomes, cores ou bandeiras. Como estava lá e sabemos que está certo. Essa ética.

Devo dizer que é muito perturbador ver algumas pessoas com pequenas parcelas de poder social e que se autodenominam de esquerda, levando essas questões tão cruas para benefício pessoal ou coletivo. E de uma arrogância sem pé, insultam a não coincidência, deslocando o argumento e aplicando critérios inoportunos, pura e simplesmente porque, felizmente, não conheceram o inferno nem as prisões do fascismo. (Se tivesse sido assim nas prisões da ditadura, teriam nos derrotado em 24 horas).

Sem curso ou grosso tratado, substitui a vida. Por isso nós, os expres@s, devemos testemunhar, confrontar e argumentar, construindo a partir de nossa memória e ética, enquanto tivermos vida e pudermos.

Aos meus colegas, os que estão aqui e os que já não estão, um agradecimento infinito. sem você Eu não seria isso nem estaria aqui, bastante são, escrevendo poemas e lutando.
olá. ?

Cecília Gianlupi

Via Heber Bismar.

 

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