O valor de cada gota. Por Carmen Susana Tornquist

Foto da autora.

Por Carmen Susana Tornquist.

Volta e meia a gente é convocada para “fazer a nossa parte” em campanhas de economia de bens comuns, tipo luz e água  como as recentes “cada gota vale” e “deixe para trás velhos hábitos” , empreendidas pela CASAN – de SC. Preocupada, segundo ela própria, com o déficit hídrico e com o excessivo consumo feito por imprudentes cidadãos, a companhia faz seus apelos até mesmo fora do verão, quando a população da região triplica e quando o calor impele cada um a usar mais água e a gastar mais energia.

Confesso que já fui repreendida por pessoas próximas sobre o meu mau comportamento ao deixar a torneira aberta quando escovava os dentes, e senti olhares verdadeiramente condenatórios ao lavar minha bicicleta  em pleno verão. De fato, temos uma crise hídrica permanente, mesmo com períodos de enchentes e estou de acordo com o chamado para o empenho coletivo – e “de cada cidadão” na economia de nossos recursos. Agora bem, e o que dizer da situação em que a própria Casan dá às costas para o desperdício de agua, bem ao lado de sua sede?

Pois bem, desde o dia 31 de dezembro do ano passado até hoje, dia 14 de janeiro, moradoras, sindica e trabalhadores de um prédio situado na Carvoeira, vem fazendo registros e reclamações junto ao órgão, informando um problema na conexão de um relógio de água. O vazamento é permanente, dia e noite são jogados litros e mais litros de água na calçada e na parte interna do prédio. Estima-se que cerca de 2 mil litros de água por dia já se foram ladeira abaixo. Desde a constatação do fato, no apagar das luzes do ano passado, foram feitos mais de 7 protocolos no 0800 do órgão. Uma única visita foi feita, mas o funcionário alegou que não poderia consertar o problema por falta de uma peça, necessária para evitar a evasão contínua da água(enquanto escrevo este texto, comenta-se que hoje, sim, os técnicos virão- assim espero!).

É fato que há problemas maiores, nesta época – veja-se o surto de diarreia e a poluição das praias, para citar o mais grave (aliás, relacionado com o mesmo órgão), mas realmente soa como pancada na cabeça do ” bom cidadão” as consignas ( ver abaixo) , face à atitude do próprio órgão, quando observamos sua politica! E olha que “profissionalismo, competência, sustentabilidade e inovação” é a logomarca da empresa…. Assim, chega a ser ridículo fazer campanha para mudar velhos hábitos, se o próprio órgão se comporta desta forma. Para piorar a situação, quando liguei para fazer o “meu protocolo” de reclamação, a atendente, por não  localizar o referido endereço do prédio no Sistema, nem mesmo como endereço e o CNPJ, ordenou que eu fosse atrás dos outros números de protocolos anteriores para “ encaminhar “  a solicitação ! Virei, do nada, cidadã culpada por não ter os dados adequados!

É evidente que do ponto de vista dos seus  propósitos- que são  públicos – a companhia atravessa um crise grave, que inclui desinformação, sistemas que não se comunicam,  desleixo, mau atendimento. E não seria  demasiado agregar que o prosaico desperdício-   do qual me queixo, aqui, porque vi de perto – é uma regra e não uma exceção: consta que a Casan desperdiça mais de 50 % da água que trata, e isto em uma serie histórica que compreende décadas…Seria cômico, se não fosse trágico. Seguiremos, sim, fazendo nossa parte – mas acredito que   a parte dos cidadãos deverá incluir uma busca séria sobre como a instituição está atuando. Enquanto o chafariz da rua das Acácias segue regando, com exuberância imperial, a calçada e o jardim.

Carmen Susana Tornquista é professora aposentada da Udesc – Universidade do Estado de Santa Catarina.

 

 

 

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