Filho de Marcelo Arruda após soltura de Guaranho: “Vai curtir o dia dos pais com seu filho. E eu?”

Pamela Silva, viúva de Arruda, também questiona prisão domiciliar do assassino: "Quantos Marcelo precisarão morrer para mostrar que esse tipo de gente é perigosa e não pode ficar em domicílio?"

Por Ivan Longo.

Familiares de Marcelo Arruda, guarda civil assassinado durante sua festa de aniversário temática do PT em Foz do Iguaçu (PR) em julho, estão indignados com a decisão da Justiça que concedeu ao assassino, o policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, prisão domiciliar.

Guaranho assassinou Arruda no dia 9 de julho, quando o petista comemorava seu aniversário com decoração alusiva a Lula e ao PT, aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”. Antes de morrer baleado, Arruda disparou contra Guaranho, que estava hospitalizado desde então.

Inicialmente, o assassino seria transferido, após a alta hospitalar, para o Complexo Médico Penal (CMP) do Paraná. O CMP, no entanto, informou que não possui estrutura para receber o policial penal bolsonarista e, por isso, a Justiça decidiu o conceder prisão domiciliar.

Em nota enviada à Fórum, a viúva de Marcelo Arruda, Pamela Silva classificou a decisão judicial de conceder prisão domiciliar a Guaranho como “absurda e inaceitável“. “O sr. Guaranho passará os dias dos pais com sua filha … E os filhos do Marcelo não terão a mesma oportunidade porque ele, o ASSASSINO, decidiu invadir a festa de aniversário de Marcelo e matá-lo!”, diz Pamela.

“É sim absurdo, inaceitável! Um desrespeito com a família e amigos do Marcelo que clamam por JUSTIÇA! Quantos Marcelo precisarão morrer para mostrar que esse tipo de gente é PERIGOSA e não pode ficar em ‘domicílio’? Estaremos aqui! Para lutar pela JUSTIÇA”, prossegue a viúva.

Um dos filhos de Arruda, Leonardo Miranda de Arruda, também enviou nota à Fórum manifestando “desapontamento” com conversão da prisão de Guaranho de preventiva para domiciliar: “Após ter cometido tamanha barbárie e acabado com a vida de um pai de família, o assassino ficará em casa, curtindo o dia dos pais com seu filho, se ‘recuperando’. E eu? E nós filhos de Marcelo? Seguimos em busca de Paz e Justiça, por Marcelo Arruda!”.

Entenda 

O juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu (PR), converteu nesta quarta-feira (10) a prisão preventiva do policial penal Jorge Guaranho, assassino do petista Marcelo Arruda, em domiciliar. Ou seja, Guaranho, que estava internado no Hospital Ministro Costa Cavalcanti e recebeu alta médica, vai para casa.

A ideia inicial era que o assassino fosse transferido, após a alta hospitalar, para o Complexo Médico Penal (CMP) do Paraná. O CMP, no entanto, informou que não tem estrutura para receber o policial penal bolsonarista e, por isso, a Justiça decidiu o conceder prisão domiciliar.

“Neste caso, sem desprezar a prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria e, sequer, a gravidade do suposto delito pelo qual o requerente está sendo processado (o que foi bem evidenciado pela decisão deste juízo, deve-se atentar à peculiar situação do acusado, o qual demanda cuidados médicos especiais, sendo certo que as unidades prisionais locais e tampouco o Complexo Médico Penal (na região metropolitana de Curitiba/PR) estão aptos a lhe oferecer as devidas cautelas indispensáveis a sua convalescência. Note-se que o expediente intempestivo indica ‘grave risco’ para a manutenção da vida do réu no caso de permanência no sistema penitenciário, a despeito de o requerente já ter recebido alta hospitalar”, diz o juiz Gustavo Arguello na decisão a qual Fórum teve acesso.

“Assim, considerando a peculiar situação que envolve o requerente e a incapacidade estatal de conferir ao preso a devida assistência médica durante a prisão cautelar, mister se faz a substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar”, prossegue o magistrado.

No despacho, o juiz determinou ainda que Guaranho seja monitorado 24 horas por dia através de tornozeleira eletrônica. Ele deverá permanecer em sua residência e só poderá sair para atendimentos médicos. O magistrado também pontua que Guaranho só ficará em prisão domiciliar até “possível eventual remanejamento do réu para estabelecimento adequado, ainda que em outro Estado da Federação”.

À Fórum, o advogado da família de Marcelo Arruda, Ian Vargas, classificou a decisão de converter a prisão de Guaranho em domiciliar como “absurda, uma vez que o Estado tem condições de fornecer tratamento médico a presos, especialmente o complexo médico penal”. “No dia que completa um mês do assassinato ele obtém prisão domiciliar. É um disparate”, considera.

Relembre o caso

No dia 9 de julho, Marcelo Arruda foi assassinado por Jorge Guaranho aos gritos de “aqui é Bolsonaro”. O agente penal bolsonarista teria sido avisado que uma festa de aniversário com temática petista estava sendo realizada na região e para lá se dirigiu a fim de cobrar satisfações dos organizadores.

Ao chegar no local, trocou algumas ofensas com os presentes e prometeu voltar armado. Arruda, o aniversariante, levou a ameaça a sério e também se armou. Cerca de 15 minutos se passaram e Guaranho voltou ao local, disparando contra Arruda, que acabou assassinado. No entanto, antes de morrer, a vítima conseguiu revidar e feriu o autor do crime com quatro tiros, impedindo uma tragédia maior.

O agente penal sobreviveu e recebeu alta hospitalar nesta quarta-feira (10). Guaranho teve a prisão preventiva decretada e foi devidamente intimado pela Justiça a respeito da denúncia acatada pela 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu, que o tornou réu por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil. Com a nova decisão judicial, no entanto, o assassino foi para casa.

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