Levantamento do Monitor de WhatsApp da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que “explodiu” a quantidade de mensagens com manifestações golpistas relacionadas 7 de setembro com tom golpista em grupos do aplicativo. Os conteúdos mencionam pedidos de intervenção militar e destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e também atacam as urnas eletrônicas. Na última semana de julho, houve crescimento de 290% na circulação desse tipo de conteúdo. Os dados foram divulgados pela repórter Patrícia Campos Mello, nesta terça-feira (9), no jornal Folha de S.Paulo.
Os pesquisadores da UFMG identificaram mais de 4 mil mensagens. O 7 de setembro é mencionado em conteúdos divulgados em 469 de 1 mil grupos de WhatsApp que são monitorados. Destas, 69% circularam em grupos de direita.
A mensagem de texto mais compartilhada nos grupos do aplicativo fala em “meter o pé na porta do STF, do Congresso e de mais onde for preciso”. Outras vão na mesma linha das declarações do presidente Jair Bolsonaro.
“Bolsonaro convocou apoiadores a se unirem a ele no 7 de Setembro, e isso se refletiu, naturalmente, em grupos de WhatsApp e Telegram, que têm apresentado uma grande mobilização, com a organização de caravanas ou conversas sobre o 7 de Setembro como a última vez em que vão às ruas”, afirmou à reportagem o professor de ciência da computação da UFMG Fabrício Benevenuto, coordenador do projeto Eleições sem Fake.
Setembrada
Mal nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro voltou à carga contra as instituições democráticas. Assim, principal investida ocorreu no mês passado, quando convocou embaixadores para desqualificar, perante o mundo, o sistema eleitoral brasileiro. Na ocasião, disse que o Brasil só terá “paz” caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adote medidas recomendadas pelas Forças Armadas para alterar o sistema de apuração dos votos. Além disso, ele também reiterou ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Posteriormente, na convenção do PL que oficializou sua candidatura, o presidente convocou apoiadores para irem às ruas no 7 de Setembro. “Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez. Vamos às ruas pela última vez”, disse na ocasião, sob gritos de “mito”. No evento, voltou a atacar os ministros do STF.
Nesse sentido, Bolsonaro também tentou transferir para a tradicional parada militar do Dia da Independência para a Praia de Copacabana, tradicional reduto bolsonarista na zona sul do Rio de Janeiro. O intuito do presidente é aglutinar militares e bolsonaristas para emparedar as instituições democráticas. A prefeitura do Rio, no entanto, informou que marcha irá ocorrer onde historicamente acontece, na Avenida Presidente Vargas, centro da capital.
Ainda assim, Bolsonaro tenta dobrar a aposta em relação ao 7 de setembro do ano passado. Naquele momento, em discurso para apoiadores na Avenida Paulista, ele atacou o ministro Alexandre de Moraes, xingando-o de canalha e ameaçando destituí-lo do cargo. Porém, no dia seguinte, o capitão recuou. Ele divulgou uma carta, redigida pelo ex-presidente Michel Temer, que entende de golpe, afirmando que “nunca teve intenção de agredir” o STF.
11 de agosto como antídoto
Entrevistado pelos jornalistas Cosmo Silva e Ana Rosa Carrara para o Revista Brasil TVT no último sábado (5), o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns, alertou para o riscos que Bolsonaro representa à democracia. “Não tenho a menor dúvida que estamos lutando contra o golpe que está para acontecer”. Especificamente sobre o 7 de setembro golpista em Copacabana, ele descreveu como “um risco imenso à segurança de cada um de nós”.
No entanto, diante dos arroubos autoritários de Bolsonaro, a sociedade se uniu. Na próxima-quinta-feira (11), diversos atos e manifestações vão marcar a defesa da democracia. Nesse dia, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), ocorrerá a leitura de dois documentos. Primeiramente, o manifesto Em Defesa da Democracia e da Justiça. A iniciativa da Fiesp recebeu apoio também das centrais sindicais e dezenas de entidades da sociedade.
Na sequência, ex-alunos do Largo do São Francisco apresentam a Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito, que já conta com mais de 820 mil adesões entre juristas, intelectuais, empresários, banqueiros e artistas. Simultaneamente, a carta também será lida em diversas outras localidades do país.
Ao longo do dia, também haverá manifestações em defesa da democracia e contra a violência política. Em pelo menos 21 capitais, os movimentos que fazem parte da campanha “Fora, Bolsonaro” estarão nas ruas. Para lembrar o Dia do Estudante, o movimento estudantil também deve marcar presença para denunciar os cortes na Educação e as ameaças de Bolsonaro à democracia brasileira.
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