Fóssil foi encontrado na Bacia do Araripe, no Piauí, em 1995. O Ministério da CIência alemão caracterizou o episódio como “má-conduta científica inaceitável do museu”, que gerou danos reputacionais sérios à instituição e ao país.
Após a decisão do Conselho de Ministros da região de Baden-Württemberg, que acatou, na manhã desta terça-feira (19), um pedido feito pela ministra da Ciência alemã, Theresia Bauer, o Museu de História Natural de Karlsruhe, será obrigado a devolver ao Brasil o fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus, retirado ilegalmente do país por pesquisadores estrangeiros, segundo a Folha de São Paulo.
Uma avaliação do ministério levantou dúvidas sérias sobre a legalidade da aquisição do fóssil e de sua importação pela Alemanha, e por isso, haverá ainda uma investigação sobre outros exemplares brasileiros em posse do museu. A expectativa é de que eles também possam ser repatriados, relata a Folha.
Fóssil Ubirajara jubatus voltará ao Brasil após ser retirado do Ceará https://t.co/oZbzVDGdiZ pic.twitter.com/hXvPJoAkxJ
— NerdBunker (@Nerdbunker) July 20, 2022
De acordo com a reportagem do jornal alemão Badische Neueste Nachrichten, a pasta da ciência se irritou com a “má-conduta científica inaceitável do museu“, que gerou danos reputacionais sérios à instituição e ao país.
A comunidade científica brasileira se mobilizou de forma inédita por meio da campanha virtual #UbirajaraBelongstoBR (Ubirajara pertence ao Brasil, na tradução) para denunciar as diversas irregularidades envolvendo a saída do fóssil do território brasileiro.
Uma das idealizadoras e principais vozes do movimento, Aline Ghilardi, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, considera que o anúncio é uma vitória para a ciência dos países em desenvolvimento.
“A gente gritou para o mundo e disse que é possível fazer uma ciência diferente, descentralizada, baseada em princípios éticos. As colaborações [com estrangeiros] são muito bem-vindas, mas desde que os benefícios sejam simétricos, em que todas as partes recebam os benefícios”, afirmou Ghilardi.
De acordo com a Folha, o artigo científico que descreveu Ubirajara jubatus, assinado por três pesquisadores, desrespeitava diversos pontos da legislação do Brasil, o qual estabelece, desde 1942, que os fósseis são patrimônio nacional.
Embora tenham afirmado inicialmente que o fóssil saiu do Brasil com a devida autorização em 1995, os autores do trabalho não conseguiram apresentar a documentação adequada. Ao longo do imbróglio, apresentaram outras justificativas conflitantes que acabaram por não se sustentar.
As autoridades alemãs ainda não disseram quando o material será enviado de volta ao Brasil e nem em que circunstâncias isso irá acontecer. O destino do dinossauro, dentro do território brasileiro, também não foi definido.
Ainda que as negociações tenham sido feitas com a participação do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri (CE), região onde o dinossauro viveu há cerca de 110 milhões de anos, reportagens na imprensa alemã afirmam que o fóssil pode ser encaminhado ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro.