Por Marcelo Hailer.
A artista Tracy Figg, inspirada pela história do médico que estuprou uma paciente sedada enquanto ela paria, publicou um texto em suas redes sobre as várias situações em que as mulheres são expostas à violência motivada por gênero.
O texto de Tracy diz o seguinte:
“No necrotério depois de mortas/ Com meses de vida/ Na infância/ Na pré adolescência/ Adultas/ Idosas/ NO PARTO/ Nas clínicas psiquiátricas/ Nas consultas médicas de qualquer especialidade/
Na rua, na igreja e em casa/ Pelo pai, pelo padrasto, pelo avô, pelo tio, pelo professor, pelo padre, pelo pastor, pelo médium, pelo MÉDICO, peloo marido, pelo primo, pelo irmão.
Nem todo homem, mas sempre um homem.”
https://www.instagram.com/p/Cf7J07dPQ2c/
Um estudante de medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) achou por bem debochar do texto de Tracy Figg e, copiando a estrutura do texto original, escreveu:
“No cruzamento da preferencial/ Com placa de pare/ Na mudança de pista/ No sinal vermelho/ Na pista molhada/ Loiras/ Morenas/ NA CURVA ACENTUADA/ No fi de rua/ Na estra de terra de qualquer cidade/ No acostamento, no viaduto e em estrada/ Por não dar a seta, por não acender os faróis, por não ligar o pisca-alerta, por não olhar no retrovisor, por dar a luz alta na cidade, por mexer no celular, por não trocar o pneu careca, por não saber fazer baliza, por correr em área escolar, por invadir a pista ao lado, por andar na contramão, por fazer conversão a mil.
Nem toda mulher, mas sempre uma mulher”.
Além de satirizar o contexto do estupro, o texto do estudante de medicina se utiliza de um velho argumento machista: de que as mulheres não são boas motoristas.
Após ser questionado, o estudante usou um argumento esdrúxulo para se defender: “Fiz um texto satírico justamente para expor, [o texto original] além de ridículo é bem transfóbico. Não existem pessoas com pênis que não são homens? E não existe estupro por parte de mulheres cis? Texto ridículo por texto ridículo, eu prefiro o meu. Tit for tat”.
Posteriormente, o estudante de medicina voltou a se defender e afirmou que “mulheres também estupram”. “Sempre um homem? ´Obvio que o meu texto é ridículo, essa era a intenção desde o começo, visto que o meu texto é satírico e com o único fim de expor a generalização ridícula que foi feita no texto original, pois: mulheres também estupram, mulheres também cometem importunação sexual. Assim como homens também cometem infração de trânsito”.
A UFMS não se pronunciou sobre a postura de seu estudante.
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