Quando teve início a conflagração militar aberta na Europa, com a intervenção das tropas da Federação Russa na Ucrânia, muita gente acreditava que seria um conflito de curta duração.
Em razão da superioridade das forças militares russas face às ucranianas e considerando que os russos estavam atuando em um território onde a esmagadora maioria de seus habitantes lhes era simpática (não podemos nos esquecer que a região de Donbass é majoritariamente composta por pessoas de nacionalidade e língua russas, que vinham sofrendo violenta repressão desde o ano 2014 por parte do governo central em Kiev e dos batalhões neonazistas a ele vinculados), nada mais lógico do que antever um rápido desfecho para este conflito.
Porém, agora, quatro meses e meio após o lançamento da operação, estamos nos dando conta de que existem outros fatores que podem fazer com que uma guerra se estenda por tempo indefinido, a despeito da debilidade ou fortaleza dos contendores: o jogo de interesses daqueles que interferem desde fora sem risco de sofrer as consequências.
Conforme nos revela de maneira muito didática o vídeo encontrado neste link (https://www.youtube.com/watch?v=Tvm_LZiTWyI), o prolongamento da guerra em solo ucraniano se transformou num imenso e lucrativo negócio que está gerando bilhões de dólares em rendimentos para certos setores industriais e àqueles a eles relacionados. Estamos falando da indústria armamentista, em especial a estadunidense, que, desde que os primeiros combates foram travados, vêm aumentando sua lucratividade de modo espantoso.
Sim, é certo que muita gente morre em uma guerra. E é certo também que muitos outros perdem suas moradias e passam a ter de sobreviver em total desamparo e precariedade. Mas, há quem considere que essas preocupações são sentimentalismos babacas diante da possibilidade de ganhar bilhões e bilhões de dólares muito mais facilmente do que em situações de normalidade. Afinal, nenhum dos grandes acionistas das indústrias de armamento, nem seus familiares diretos, estão na linha de frente dos campos de batalha para que se deixem sensibilizar por tais temeridades secundárias.
O que estamos vendo ocorrer na Europa e nos Estados Unidos neste momento é a formação de um bloco quase monolítico unindo os representantes da indústria da guerra e os controladores dos grandes conglomerados midiáticos. Na verdade, como também vamos ver no citado vídeo, os interesses dos segundos estão tão entrelaçados com os dos primeiros que fica difícil distinguir quem é quem entre eles. Assim como é comum que grandes acionistas da indústria da guerra sejam igualmente proprietários ou sócios em empresas de meios de comunicação, a presença de gente do alto escalão midiático no corpo de acionistas da indústria bélica não é nenhuma raridade.
Talvez seja por isso que estamos vivenciando uma fase de implacável censura a todos aqueles meios e vozes que não se subordinam passivamente às diretrizes que visam gerar uma opinião pública tolerante com a continuidade da guerra. Não é à toa que, em todas as grandes redes de televisão ou rádio da Europa ou dos Estados Unidos, só estejam tendo visibilidade aqueles que se mostram favoráveis ao prosseguimento das atividades bélicas. Está em curso uma brutal campanha de cerceamento e intimidação a todos os que aspiram a uma rápida e justa solução para esta disputa. O que estamos observando é que o conluio formado entre os interesses da indústria da morte em simbiose com os da mídia hegemônica não quer dar nenhuma chance para a paz.
É por deixar tudo isto muito bem evidenciado que considero importante a mensagem transmitida neste vídeo. Decidi fazer sua tradução ao português e adicionar as devidas legendas para possibilitar que muitos mais brasileiros tenham acesso a seu conteúdo e que possam debatê-lo e divulgá-lo ao máximo possível. Para alcançar a paz, seja na Europa, nos Estados Unidos, ou aqui no Brasil, vamos ter de nos contrapor aos que pretendem continuar lucrando com o sofrimento e a morte que a guerra e suas armas causam aos outros.
O caso estadunidense é bem elucidativo do poder de fazer valer os interesses comerciais na ganância por lucro sobre os do conjunto do povo. Por isso, apesar das matanças generalizadas que ocorrem com frequência em território estadunidense, qualquer tentativa de regular essa questão é alvo de violentas campanhas midiáticas para impedir alterações nas leis. Logicamente, os principais financiadores dessas campanhas são as empresas vinculadas ao mercado da morte.
E não podemos deixar de recordar que o bolsonarismo é o pilar da defesa dos interesses da indústria de armas no Brasil. Na verdade, o que os bolsonaristas buscam é reforçar os lucros dos capitalistas que controlam a fabricação e comercialização de armamento, sem que estejam imbuídos de nenhum apreço pela liberdade ou pela justiça e, muito menos, pela vida. É evidente que quando eles falam em direito de todos à sua autodefesa, o que se quer dizer, na realidade, é que os ricos poderão se armar para eliminar os pobres que ousem contestar as condições de exploração a que estão submetidos. Ou alguém imagina que aqueles que mal conseguem arrumar dinheiro para comprar um fogão ou uma geladeira, vão dispor de recursos suficientes para adquirir armas, cujos preços elevados as tornam exclusividades reservados para os mais ricos.
Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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