Cerca de 2 mil pessoas acompanham enterro de Vitor Guarani Kaiowá, assassinado no território de Guapoy (MS)

A marcha e o enterro ocorreram após a DPU e o MPF realizarem acordo com fazendeiro que ocupa, atualmente, a área da retomada dos Guarani Kaiowá

Enterro de Vitor Guarani Kaiowa, em Guapoy, Amambai (MS). Vitor foi assassinado, brutalmente, por policiais militares após indígenas retomarem parte do território de Guapoy. Foto: Povos Guarani Kaiowa

Assessoria Comunicação do Cimi.- Cerca de 2 mil pessoas marcharam e acompanharam, na tarde desta segunda-feira (27), o enterro de Vitor Guarani Kaiowá, indígena brutalmente assassinado pela Polícia Militar na última sexta-feira (24), no território Guapoy, em Amambai, no Mato Grosso do Sul.

A marcha ocorre após a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF) realizarem um acordo com o fazendeiro que ocupa, atualmente, a área da retomada dos Guarani Kaiowá.

O acordo estabelecido é de que o enterro em cova seja feito até 15 metros da cerca – uma forma de evitar um novo episódio de violência policial e permitindo, assim, que amigos e parentes de Vitor possam visitar o túmulo.

 

“Desde que o corpo foi liberado, fizeram um velório e mantiveram o corpo, demandando o direito de enterrar sobre o território. E isso é uma questão importante para os povos Guarani Kaiowá. Eles fazem essa ligação: de onde tomba o guerreiro com a questão espiritual de estar plantado sobre a terra tradicional”, afirmou um dos representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – que, por segurança, terá sua identidade preservada.

“Os Guarani Kaiowá fazem a ligação de onde tomba o guerreiro com a questão espiritual de estar plantado sobre a terra tradicional”

No dia 24 de junho de 2022, policiais militares atiraram, com balas de borracha e armas de fogo, contra indígenas da retomada Guapoy, em Amambai (MS). Nove pessoas ficaram feridas e uma veio a óbito. Foto: povos Guarani Kaiowá

Caso Guapoy

Na manhã do dia 24 de junho, fazendeiros da região e policiais militares invadiram o território de Guapoy, em Amambai, em Mato Grosso do Sul, no intuito de expulsar, por meio do uso da força, os indígenas – mesmo não havendo ordem judicial. Devido à gravidade e truculência do ataque, os indígenas referem-se à situação como “massacre de Guapoy”.

Na ocasião, policiais militares dispararam tiros de borracha e de arma de fogo contra os indígenas, deixando ao menos nove feridos e um morto – Vitor Guarani Kaiowá, de 42 anos. A comunidade denuncia ainda ser alvo de uma série de preconceitos e acusações que não encontra respaldo na realidade dos fatos.

A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com quase 10 mil indígenas.

Para os Guarani Kaiowá, Guapoy é parte de um território tradicional que lhes foi roubado – quando houve a subtração de parte da reserva de Amambai. Os indígenas clamam atenção, exigem proteção às suas vidas e seus direitos.

Além de se solidarizar e seguir acompanhando o caso, o Cimi pede, com urgência, o envolvimento de órgãos federais, bem como do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), a fim de controlar a situação e investigar os episódios.

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