De repente ouvimos de novo falar dela, está logo ali, do outro lado, entre irmãs e irmãos.
Está logo ali consumindo vidas, tirando sonhos, liberdades, sufocando alegrias.
Está logo ali, do outro lado dos muros, entre mulheres, homens jovens e idosos, legiões de desesperados.
Fome, justo agora quando tem o agro, que é pop, que é tudo, que é tão estimulado pela lucratividade.
Fome agora, quando se discute urnas eletrônicas, democracia, eleições e golpes pelo poder.
Fome que grita, injustiça, que denúncia a concentração de renda e clama à partilha.
Fome que dói, faz delirar, sufoca, agride a dignidade humana, dilacera o futuro e mata.
Fome, ei-la bem diante dos olhos dos abastados, das mesas fartas, das prateleiras e geladeiras abarrotadas.
Fome onde a partilha foi desfeita por aqueles que acumulam gananciosamente.
Fome onde as cercas paralisam os direitos, concentram os bens e excluem a existência do outro.
Fome porque a desumanidade prevalece, o egoísmo dá a direção e os poderosos fartam-se em seus tronos.
Fome que deveria envergonhar, revoltar, indignar, mobilizar e mover os bem nutridos a combater os privilegiados.
Fome, até quando?
Por Roberto Liebgott, para Desacato.info.
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