Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.
“Não vou,
vai a minha palavra.
O que mais queres?
Te dou
tudo o que eu creio,
que é mais do que o que eu sou”
(Pedro Casaldáliga).
Desde que o conheci, anos atrás, dei-me de presente a mania de outorgar ao Bispo Pedro Casaldáliga o título de O Catalão Mais Importante do Brasil.
Mesmo sabendo que era uma “nomeação” muito pretensiosa da minha parte, o único problema nesta afirmação sempre foi a própria humildade imensa do amigo bispo: jamais aceitaria qualquer tipo de promoção em cima do seu nome. Tudo pelas suas “causas” e nada para si próprio, ele não cansava de repetir. E isso o tornava ainda mais especial, não somente para mim, mas para muita gente que o seguia (e ainda segue).
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O certo é que a pessoa que eu me permiti considerar mais importante em defesa das “causas” dos povos indígenas brasileiros, ainda não teve, no meu país, o devido reconhecimento público. Algo que ele nunca buscou. Eu, sim.
Eu não gosto de ser obrigado a nada. Mas não desprezo a possibilidade de sentir-me obrigado a fazer tudo que eu modestamente puder para – agora mais que nunca – somente dar prosseguimento à missão promovida durante muitos anos por Dom Pedro às margens do Rio Araguaia. De longe, brasileiro emigrado à Catalunha, eu farei todo o possível.
Faço parte de diversos grupos sociais que lutam contra o fascismo que nem mesmo ousa dizer seu nome, no Brasil. E entre a diversidade de lutas de resistência, opto por priorizar algumas. Sou daquele tipo de pessoas que pensam que quem prioriza Tudo pode estar escolhendo O Nada.
O catalão Pere Casaldàliga (na grafia original, no idioma oficial da Catalunha) foi um dos criadores do Conselho Indigenista Missionário, o CIMI, da Comissão Pastoral da Terra, a CPT, e enfrentou-se diretamente – sempre no uso do excelente dom da palavra – com a máxima autoridade da Igreja Católica, o Papa. Acumulando ameaças de morte, assistiu – manchado de sangue – o brutal assassinato do seu auxiliar, foi pioneiro na denúncia do trabalho escravo, do genocídio indígena e exerceu como ninguém a crítica interna dentro da própria Igreja.
Me mantenho irmanado à ele principalmente por meio da sua poesia.
Assim, decidi voluntariamente dedicar-me ao estudo permanente dos seus diários, sempre escritos em uma opção de vida que nunca deixou de ser, essencialmente, poética. O contexto é único: Brasil.
Não foi difícil transformar a sua mística e poesia em uma apresentação de Teatro Vivencial (Paulo Freire e Augusto Boal, como referentes principais), que consiste num breve recital de poesia, entrelaçada pela prosa do próprio Pedro. E da musicalidade que ele tanto gostava.
Decidi chamar este recital de “E Pedro Descobriu o Brasil”, em memória de todas aquelas pessoas que insistem em verdadeiramente descobrir pra nós aquilo que sempre esteve diante dos nossos olhos.
Fundamental é querer.
Paz e Bem.
Viva Dom Pedro.
A informação sobre La Trobada (O Encontro, em catalão) que será realizada no próximo domingo, em Barcelona, pode ser acessada aqui: https://latrobada.org/programacio/teatre-vivencial/
O programa completo é interessantíssimo e informa sobre a participação do ex Assessor da Presidência da República (Governos Lula e Dilma), Paulo Maldos, da Deputada brasileira no Parlamento Espanhol, Maria Dantas, da jornalista e ex Diretora da TV Pública da Catalunha, Mónica Terribas, e do Teólogo Víctor Codina – entre outros destacados nomes.
Barcelona, 20 de maio de 2022.
@1flaviocarvalho. @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor. Ex-dirigente sindical da CUT e ex Formador da Escola de Formação da CUT no Nordeste.
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