Chuva de outono, sempre tão desejada, por vezes rezada, posta em promessas, pedidos e preces, a fim de que viesse abrandar a seca entregue pelo verão.
Esperançada ela caía um pouco aqui e acolá – umedecendo palmos de chão e fazendo brotar ramos e caules – mas ainda insuficiente à reposição das fontes e nascentes.
Veio o dia e, muito repentinamente, nuvens densas, sob um céu anil, se formaram retumbantes, escondendo, inclusive, o clarão do sol, morenando o ambiente.
Olhares atentos perceberam que eram nuvens de chuva e, finalmente, as preces seriam ouvidas, as promessas retribuídas.
A chuva repousou sobre os altos das serras, despejando-se nelas, escorrendo sobre as rochas, entre arbustos, em meio às matas, pelos canais, corregos, acelerando-se até as várzeas.
Avolumada e apressada, desviou-se do leito do rio, encontrou alguns antigos, delineou novos e avançando, removeu pessoas, animais, plantas e sementes.
Incrédulos, depois da enchente, todos se perguntavam, como, a final, isso aconteceu, já que nunca se viu, em toda a existência, tanta fúria contra nossa gente.
Lamento e tristeza compõem e transcendem o lugar onde se vive, vinculam-se a humanidade degenerada, degradada e decadente.
A falta da chuva, ou ela em excesso, estampam os retrocessos na relação com a mãe terra, seus dons e dádivas entregues ao nosso cuidado.
Por Roberto Liebgott, para Desacato.info.
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