Por Laila Nery.
Representatividade e educação antirracista são temas que sempre estão em pauta e são essenciais em discussões sobre igualdade racial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% da população brasileira é preta ou parda. Uma maioria populacional, mas minoria quando o assunto é o espaço no cinema e na televisão.
Foi sem se reconhecer no cinema que a diretora e jornalista Daiane Rosário decidiu estudar comunicação. Aos 30 anos, ela é uma das cineastas que ajuda a levar representatividade para as nossas telas e reconhece a importância dessas obras na infância. “A arte tem o poder de transformação de imaginários, quando utilizamos o cinema como ferramenta para estimular que as crianças descubram suas subjetividades elas passam a se conectar com a própria identidade”, explica a diretora.
“Muitas vezes as crianças pretas nascem sem essas referências. Eu tenho trinta anos e percebo que durante a minha própria infância, o mercado tinha mais deficiências em comparação ao cenário que encontramos hoje.”
Pensando na infância e nas referências que as crianças de agora vão levar para o futuro, ela comemora a qualidade de novas obras que têm ganhado espaço na mídia. “As minhas sobrinhas tem coisas tão básicas, como bonecas negras, a presença de personagens negras nos desenhos e na TV. Temos avançado e isso é fruto das políticas públicas e reivindicações do movimento negro. Hoje toda a população tem noções de identidade e impulsiona a grande mídia para que a representatividade de fato aconteça”, conta Daiane.
As obras não são exclusivas para a população negra e muitos filmes estão disponíveis para quem precisa de ajuda nessa missão. Com a ajuda de Daiane Rosário e outros especialistas na área, o Estadão selecionou algumas obras que podem ajudar nessa missão.
Para assistir com as crianças:
1. ‘Kiriku e a Feiticeira’
Kiriku foi o primeiro filme infantil que reproduziu a cultura e tradição de povos africanos pensando principalmente nas crianças negras. Ele é baseado numa lenda repassada pela tradição da oralidade e foi dirigido pelo francês Michel Ocelot, que viveu parte da sua vida em Guiné.
O filme foi lançado em 1998 e conta a história do corajoso Kiriku, uma criança que decide enfrentar uma feiticeira que ameaça a vila onde o garotinho mora com a sua família. Com a ajuda do seu tio, ele decide procurar a mulher para pedir que ela pare de promover o mal. Ao conhecê-la, eles descobrem que nem sempre as pessoas são tão ruins quanto parecem ser.
2. ‘Hair Love’
Hair love é um filme sobre o cabelo crespo, afeto e auto estima. Lançado em 2019, foi o grande vencedor do Oscar na categoria melhor curta-metragem de animação, em 2020. O filme conta a história de uma família negra que mora nos Estados Unidos e se vê enfrentando problemas quando percebe que a garotinha Zuri anda insatisfeita com o próprio cabelo. O pai da criança acaba assumindo a responsabilidade de reconstruir a autoestima de Zuri e conta com a ajuda de pentes, cremes, muita criatividade, alguns grampos e uma dose de amor para mostrar a filha o quanto o cabelo crespo é lindo.
Onde assistir: HBO Max
3. ‘Soul’
Lançado em 2020, Soul é um filme da Disney que fala sobre sonhos. Joe é um músico que se tornou professor no ensino médio. Apaixonado por jazz, ele não tinha grandes ambições, a vida não tinha entregado tudo que ele esperava e, após a morte, sua alma passa a ajudar as pessoas a descobrirem suas verdadeiras paixões e funções no mundo. Numa dessas viagens, ele acaba descobrindo que o mundo pode ser maior e mais divertido do que ele imaginava, sua paixão pela música acaba se tornando uma paixão pela vida.
Onde assistir: Disney +
4. ‘Nana e Nilo’
Nana e Nilo são duas crianças gêmeas que visitam a Amazônia e relembram a importância de proteger os animais e a floresta para que o mundo viva em equilíbrio. Na aventura, a dupla descobre um Brasil com diferentes culturas, ritmos e animais com formatos e cores diferentes. Eles mostram que mesmo com as diferenças, animais e pessoas podem ser amigos, basta respeitar as características culturais de cada estado e absorver o melhor que o Brasil pode oferecer.
A animação é brasileira e foi desenvolvida pela produtora Chave.
5. ‘Super Choque’
Uma das animações mais assistidas do inicio dos anos 2000 na TV aberta brasileira, Super Choque conta a história de Virgil Hawkins, um adolescente que, devido a um acidente, acaba desenvolvendo poderes eletromagnéticos. Ele se anima com a super força e a possibilidade de controlar a eletricidade e usa os poderes para combater o crime. Em 2019 a animação ganhou um live action produzido pela HBO.
Onde assistir: HBO Max
6. ‘O Mundo de Karma’
Meninas podem cantar rap? Karma Grant é a estrela dessa animação para provar que sim. Cheia de talentos e sonhos, a jovem não consegue parar de rimar e criar composições. Mas na escola, os garotos acham que ela nem devia tentar. Alguns acham seu cabelo ‘crespo demais’, outros que ela é ‘menina demais’. Mas Karma sabe de uma coisa: ‘tudo o que você joga para o mundo, retorna para você’, por isso, ela compartilha seu amor, sua paixão pela música e sua vontade e coragem para mudar o mundo, através das suas rimas.
Onde assistir: Netflix.
Conteúdo Estadão.