Por Carolina Fortes
Nesta terça-feira (8), comemora-se o Dia Internacional da Mulher, data que simboliza a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. Apesar da versão mais difundida ser a de que a data remonta a um incêndio em uma fábrica, que vitimou 125 operárias, segundo o site Brasil de Fato, o primeiro registro é de 1910.
Durante a II Conferência Internacional das Mulheres em Copenhague, na Dinamarca, Clara Zetkin, feminista marxista alemã, propôs que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial das mulheres, cujo primeiro objetivo seria promover o direito ao voto feminino. A reivindicação também inflamava feministas de outros países, como Estados Unidos e Reino Unido.
O incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, teria ocorrido um ano depois, e fez com que a luta das mulheres crescesse ainda mais, em defesa de condições dignas de trabalho. As reinvindicações continuam até hoje, seja para melhores salários, fim da violência doméstica, direito ao estudo, entre outras.
Apesar de cada mulher ter sua realidade e luta específicas – com os devidos recortes de raça, sexualidade e nacionalidade, por exemplo – é fato que o 8 de março nada tem de comercial. No entanto, é comum todos os anos recebermos uma chuva de parabéns, flores ou bombons.
O que as mulheres não aguentam mais no 8 de março:
Flores, bombons, mensagens vazias de WhatsApp
Basta sair na rua para receber flores de desconhecidos ou chegar no trabalho e se deparar com uma rosa em sua mesa. Apesar de muitas pessoas gostarem de ganhar flores, o Dia Internacional da Mulher nada tem a ver com dar presentes ou fazer homenagens através de mensagens de WhatsApp. Mais eficiente seria, por exemplo, pensar em políticas públicas, equiparação salarial ou o fim de comentários machistas camuflados de piadas.
“Não sou machista”, “nem todo homem”
Praticamente todas as mulheres já ouviram essa frase saindo da boca de algum homem. Muitas vezes, essa é a primeira reação deles quando algo que falaram é apontado como preconceituoso. Embora os homens façam todo o possível e impossível para se desconstruir, não é porque deixaram de ser machistas em algum momento que estão imunes para sempre. O machismo é a norma, é estrutural, e é como a sociedade percebe os comportamentos. Então não, você não deixou de ser machista porque respeita sua mãe ou sua irmã.
Foto com a mãe, namorada, irmã, sobrinha…
Falando em não deixar de ser machista porque respeita a mãe, outra atitude que cansa é no 8 de março ver aquele homem que o ano inteiro foi machista publicando foto com a mãe ou a namorada e dizendo que “são as mulheres da vida dele”. A luta contra o machismo vai muito além de uma data ou querer mostrar para os outros que você ama mulheres que estão à sua volta. É necessário comprometimento, estudo e autocrítica – e isso o ano inteiro, não apenas quando convém.
Assédio disfarçado de elogio
Outra atitude que não aguentamos mais são assédios disfarçados de elogios. Muito cuidado ao dizer o que você pensa para uma mulher. Mesmo que, para você, pareça legal chegar do nada e dizer que a pessoa está linda, muitas vezes esses “elogios” são completamente inapropriados, principalmente dentro de uma relação profissional – onde acontecem com muita frequência.
Sobrecarregar mulheres para que elas resolvam tudo
A sobrecarga que os homens colocam em cima das mulheres vai além das tarefas domésticas e cuidados com as crianças. A maioria dos homens se limita a executar as ordens dadas pelas mulheres que, muitas vezes, devem ser verbalizadas mais de uma vez e de forma convincente. Essa carga mental, que é uma tarefa invisível, acontece em relações de diversas maneiras, inclusive quando os homens perguntam o que fazer para ajudar na luta contra o machismo, ao invés de procurar as informações na internet.
“Somos todas iguais porque sofremos machismo”
Essa frase não dá nem para culpar os homens, já que ela vem da boca das próprias mulheres, principalmente as cisgêneras, brancas e que estão dentro do padrão. Embora todas sejamos afetadas pelo patriarcado, os recortes são muito diferentes, e colocar tudo no mesmo saco dificulta principalmente a resolução de problemas sérios, como a violência doméstica. As questões de mulheres brancas são muito diferentes das de mulheres pretas, assim como de mulheres cisgêneras e mulheres trans, mulheres sem deficiência e mulheres com deficiência, magras e gordas, e por aí vai. É necessário enxergar a interseccionalidade dentro das relações.