Por Cezar Xavier
A Diretoria de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal passará pela quarta mudança desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL) e terá um novo delegado responsável. Este foi um dos motivos do atrito e exoneração do ministro da Justiça Sergio Moro, que acusou Bolsonaro de interferência na Polícia Federal, em abril de 2020.
Na área de corrupção, a polícia registrou uma queda brusca de prisões no âmbito de operações, desde o primeiro ano do governo Bolsonaro. A Folha de S. Paulo revelou que em 2021 foram registradas 164 prisões nessa área, uma redução de 60% em relação às 411 efetuadas ao longo de 2020. Os índices mostraram que as prisões despencaram na gestão de Maiurino.
A Dicor é uma das áreas mais sensíveis da polícia. A ela está vinculada a equipe encarregada de tocar os inquéritos que miram políticos que estão no cargo, incluindo o presidente da República. Essa é uma das mudanças já definidas pelo novo diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes. Outras diretorias também vão ser trocadas.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) considerou o caso “gravíssimo”. “Todas as intervenções de Bolsonaro na PF visam paralisar as investigações contra si próprio e seus acólitos, além de transformar o órgão em polícia política para atacar adversários. É o mais descarado aparelhamento já visto!”, resumiu ele.
Na Coordenação de Inquéritos nos Tribunais Superiores, uma das investigações apura se Bolsonaro interferiu no comando da PF para proteger parentes e aliados, suspeita levantada pelo ex-ministro da Justiça e presidenciável Sergio Moro.
O deputado federal Ivan Valente (PSol-SP) também atacou a mudança, que ele considera uma blindagem de Bolsonaro e família. “Paulo Maiurino quer trocar o delegado que investiga a interferência de Bolsonaro na PF. O STF precisa impedir a alteração. Estamos tomando providências contra esse absurdo.”
As trocas na cúpula são repentinas e pegam a direção de surpresa. Com isso, impactam no trabalho devido às incertezas da política interna, e também por mexer em níveis mais baixos da hierarquia da PF. Isso é demonstrado pela queda as prisões por corrupção.
Segundo a reportagem da Folha, embora a troca de comando da PF seja vista como mais uma intempérie no órgão, a indicação de Nunes sinaliza, no entendimento de delegados experientes, para o possível arrefecimento no clima interno com o fim das crises que marcaram a gestão Maiurino.
Márcio Nunes era o secretário-executivo do Ministério da Justiça e foi indicado pelo ministro Anderson Torres. O delegado passou por quase todos os níveis hierárquicos dentro da PF, de chefe de delegacia, de setor, de divisão e, antes de assumir o cargo na Justiça, era superintendente no Distrito Federal.
Antes dele,Maiurino foi indicado por Jair Bolsonaro em abril de 2021, apesar de não ter passagens por cargos importantes na PF, mas ter amizades políticas. Ele foi apenas chefe da segurança do STF na gestão de Dias Toffoli.
As turbulências começaram em abril de 2020, quando Maurício Valeixo deixou o cargo, gerando o pedido de demissão do ministro Sergio Moro. Diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado durante a Operação Lava Jato, ele seria substituído por Alexandre Ramagem, que teve a nomeação barrada por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, por ter relações com a família Bolsonaro. No final, Rolando de Souza foi indicado por Ramagem para ocupar o cargo e nomeado por Jair Bolsonaro. Ele ficou entre maio de 2020 até abril de 2021.
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