Por Henrique Rodrigues.
Um homem de 31 anos que sofre de uma doença cardíaca congênita e hereditária, identificado como DJ Ferguson, de Boston, nos EUA, teve seu transplante de coração negado pelos médicos, após uma longa espera na fila pelo órgão, por não ter se vacinado contra a Covid-19. O fato despertou a atenção da sociedade norte-americana para a importância da imunização contra a doença provocada pelo Sars-COV-2.
Em relação às razões que levaram Ferguson a não ser imunizado contra a Covid-19, surgiram algumas imprecisões. Seu pai, David, informou à imprensa local que seu filho não o fez “por ser contra seus princípios”, enquanto uma amiga do paciente e de sua esposa, que ficou responsável por arrecadar fundos para custear a cirurgia, afirmou que Ferguson tinha medo de uma possível inflamação cardíaca, que ocorre raramente como efeito colateral em quem se imuniza contra o coronavírus. Médicos dizem que a incomum reação não costuma ser grave e tem caráter transitório.
A justificativa dada pelo Brigham and Women’s Hospital e pelos cirurgiões especializados no complexo procedimento é de que pessoas não imunizadas têm menos chances de sobreviver a um transplante já que o sistema imunológico de pacientes que se submetem a essa operação é “zerado” após a troca de um órgão, exigindo dela o máximo possível de proteção contra qualquer tipo de infecção, que tem grandes chances de ser mortal em quem não está imunizado.
Os especialistas alegam ainda que a disponibilidade de órgãos para transplante é muito baixa no país e que por isso não se pode desperdiçá-los com pacientes que tenham pouca possibilidade de sobreviver, especialmente se for por decisão própria de não se vacinar.
“Após qualquer transplante de rim, de coração ou de qualquer coisa, seu sistema imunológico desliga. A gripe pode te matar, um resfriado pode te matar, a Covid pode te matar. Os órgãos são escassos, não vamos distribuí-los para alguém que tem pouca chance de viver quando outros vacinados têm mais chance de sobrevivência após a cirurgia”, explicou à equipe de reportagem da rede de TV CBS Arthur Caplan, diretor de Ética Médica na Universidade de Nova York.
O Brigham and Women’s Hospital respondeu a uma consulta da rede estatal britânica BBC sobre o tempo médio de espera por um transplante nos EUA com a informação de que os pacientes aguardam no geral cinco anos para conseguirem um órgão compatível e que por isso, todos as medidas que evitem o desperdício desse material biológico devem ser cobradas e respeitadas, como a vacinação em dia, por exemplo.
De acordo com estatísticas do Centers for Disease Control and Prevention – Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos EUA (CDC, na sigla em inglês) – a respeitada agência estatal que supervisiona os procedimentos médicos no país mais rico do mundo, as chances de uma pessoa morrer por Covid-19 quando não está vacina é 20 vezes maior do que entre os imunizados e que esse índice se eleva ainda mais nos casos de pacientes imunossuprimidos que passaram por um transplante.