Nota da Saúde que defende cloroquina e ataca vacina é repudiada por cientistas

O manifesto critica duramente o documento assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta da Saúde, Hélio Angotti Neto

Caixa de sulfato de hidroxicloroquina – Foto: Reprodução/Twitter

Por Julinho Bittencourt.

Uma carta de repúdio à nota técnica do ministério da Saúde que defende eficácia da hidroxicloroquina no tratamento contra covid-19 e questiona a segurança das vacinas, foi assinada por mais de 45 mil professores e profissionais da Saúde. O abaixo-assinado, que foi aberto em um site de petições on-line no sábado (22), pede com urgência a adoção das normas que barrariam o “kit covid” aprovadas em dois turnos pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema de Saúde (Conitec).

O manifesto critica duramente o documento assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta da Saúde, Hélio Angotti Neto. “Nos sentimos perplexos quando lemos a vasta lista de estultices apresentada pela nota técnica. É espantoso que o Ministério da Saúde recuse normas propostas elaboradas por um grupo de pesquisadores, convocados pelo próprio Ministério, criando uma situação sem precedentes em nosso País.”

Destruição do sistema

A carta diz ainda que, ao publicar a nota técnica, a pasta da Saúde “transgride não somente os princípios da boa ciência, mas avança a passos largos para consolidar a prática sistemática de destruição de todo um sistema de saúde”.

A petição foi amplamente divulgada por médicos e cientistas nas redes sociais.

A nota de repúdio foi redigida primeiramente pelo patologista Paulo Saldiva. Ele avalia que a nota técnica do ministério é uma “coleção de bobagens”. “Na realidade é um parecer que cristaliza o discurso das redes sociais negacionista”, fala.

“O maior absurdo não é só eles dizerem que a cloroquina funciona. Eles colocam em uma tabela, na página 24, que diz que as vacinas não tem evidência de segurança. E mais, as tratam em caráter experimental. Dizem que existem interesses econômicos (por trás das vacinas) e que da cloroquina não, por ser uma droga barata”, afirmou.

Anvisa reage de forma enérgica

Meiruze de Freitas, uma das diretoras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Avisa), reagiu de forma enfática, em nota, às informações sem sentido contidas no parecer emitido pelo Ministério da Saúde.

“Todas as vacinas autorizadas no Brasil passaram pelos requisitos técnicos mais elevados no campo dos estudos clínicos randomizados (fase I, II e III) e da regulação sanitária”, contestou.

“Não é esperado e admissível que a ciência, tecnologia e inovação no Brasil estejam na contramão do mundo”, afirmou a diretora. “É preciso que todos estejam unidos na mesma direção, ou seja, salvar vidas”, enfatizou ainda Meiruze.

 

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