Renda do trabalho perde peso em 2020, e brasileiro depende mais de programas sociais

Os 10% da população com maiores rendimentos têm parcela quase igual à dos 80% com menor rendimento

Brasil, São Paulo, SP. 16/06/2006. Residências da favela de Paraisópolis, localizada na zona sul de São Paulo; ao fundo, edifícios do luxuoso bairro do Morumbi, um dos mais nobres da capital paulista. – Crédito:CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:40748

Por Vitor Nuzzi

A renda proveniente do trabalho perdeu peso em 2020 e o brasileiro passou a depender mais de programas sociais e outras fontes de rendimento, segundo o IBGE. O total de pessoas com rendimento do trabalho caiu de 44,3% para 40,1% da população – em números absolutos, de 92,8 milhões para 84,7 milhões, a menor quantidade da série. Já aqueles com outros rendimentos, o que inclui o auxílio emergencial, quase dobraram: de 7,8% para 14,3% da população, ou de 16,4 milhões, em 2019, para 30,2 milhões. Assim, pela primeira vez desde 2012, esse grupo superou o das pessoas que recebiam aposentadoria e pensão (26,2 milhões, ou 12,4%).

A desigualdade brasileira se evidencia também na renda. No ano passado, o 1% de pessoas com melhor rendimento ganhava 34,9 vezes mais em relação aos 50% com menor rendimento. Os valores eram de R$ 15.816 e R$ 453, respectivamente. Apesar de elevada, essa proporção diminuiu: em 2019, chegou a 40 vezes, a maior da série.

Além disso, a parcela dos 10% com os menores rendimentos detinha 0,9% da massa total. Já os 10% com os maiores rendimentos concentravam 41,6%. Esse grupo, informa o IBGE, possuía uma parcela da massa de rendimento quase equivalente à dos 80% da população com os menores rendimentos (43%). Mesmo assim, perdeu participação entre 2019 e 2020.

Auxílio emergencial

De acordo com a pesquisa do IBGE divulgada nesta sexta-feira (19), a proporção de domicílios com pessoas recebendo outros programas sociais saltou de 0,7% para 23,7%. A proporção dos que recebiam o Bolsa Família caiu de 14,3% para 7,2%, por causa do auxílio emergencial. E os que tinham benefício de prestação continuada (BPC) recuaram de 3,5% para 3,1%. Em resumo, caiu peso dos rendimentos de trabalho, aposentadoria e pensão, além de rendas como aluguel e pensão alimentícia.

Com isso, o rendimento médio de todas as fontes caiu 3,4% de 2019 para 2020, de R$ 2.292 para R$ 2.213. O maior valor foi registrado na região Sudeste (R$ 2.575) e o menor, no Nordeste (R$ 1.554), a única área onde não houve queda. No caso do rendimento do trabalho (R$ 2.447), houve aumento de 3,4%, devido à saída de 8,1 milhões de ocupados.

Por outro lado, a massa de rendimentos caiu 5,6%, para aproximadamente R$ 207,385 bilhões. Algo em torno de R$ 12 bilhões a menos na economia brasileira.

Desigualdade segue alta

índice de Gini (que mede a desigualdade) do rendimento médio domiciliar per capita passou de 0,544 para 0,524 – quanto mais perto de 0, menor a desigualdade. O maior era o do Nordeste (0,526) e o menor, do Sul (0,457).

Já o índice de Gini do rendimento médio de todos os trabalhos foi de 0,500, um pouco abaixo de 2019 (0,506). “Mais uma vez, a redução do contingente de ocupados, sobretudo dos trabalhadores por conta própria, domésticos e empregados sem carteira, pode ter tornado a distribuição de rendimento do trabalho um pouco menos desigual”, diz o IBGE. Em 2015, esse índice era de 0,490. Ou seja, a desigualdade era menor.

Em 2020, o rendimento de todos os trabalhos compunha 72,8% do rendimento médio mensal real domiciliar per capita. Os 27,2% provenientes de outras fontes se dividiam em aposentadoria ou pensão (17,6%), aluguel e arrendamento (1,5%), pensão alimentícia, doação ou mesada de não morador (0,8%) e outros rendimentos (7,2%, que representavam 3,4% em 2019). Esses outros rendimentos correspondiam a 13,7% no Nordeste e a 12,5% na região Norte.

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