Não existe! Por Flávio Carvalho.

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Por Flávio Carvalho.

O que será que será. O que não tem certeza, nem nunca terá. O que não tem conserto, nem nunca terá. O que não tem tamanho… O que não tem decência nem nunca terá. O que não tem censura nem nunca terá. O que não faz sentido… O que não tem governo, nem nunca terá. O que não tem vergonha nem nunca terá. O que não tem juízo”. (Buarque, Nascimento)

Não existe: estupro culposo (todo estupro é estupro),

tortura menos-ruim (tortura é tortura; um valor absoluto; jamais relativo),

amizade de feicibuqui (feici é feici, e a vida fora disso é vida, não é outra vida),

beijo roubado (não é beijo, é abuso; beijo na boca é como briga de mão: ou é coisa de dois ou não é),

corrupção passiva (corrupção é corrupção, é sim ou não, sem talvez: plantou colheu, deu no que deu),

monarquia democrática (a monarquia é a antítese da democracia; faz tempo),

escravidão moderna (o inaceitável, inaceitável é; e sempre foi; e sempre será),

banqueiro pobre (explorador do não-trabalho é explorador de trabalhador),

meditação express (a pressa é inimiga da perfeição e da meditação),

operação lava-jato (chapéu de otário é marreta),

macho feminista (o privilégio foi feito pra operar internamente, principalmente se autoenganando),

cura gay (o principal doente é o intolerante),

burocracia amiga (foi inventada pra isso, pra o que ela serve; esperavas o quê?!),

papai noel (a dona da Coca-Cola, onde eu moro é a mulher mais rica do pedaço, pela lista Forbes),

capitalismo solidário (vai enganar a outro; a mim, não),

mamadeira de piroca (foi um sonho delirante-nojento-pornográfico, de Bolsonazi e Damares),

ensinar sem aprender (viva Freire),

autoajuda paga (se conselho fosse bom seria dado e não vendido),

bolsonarismo inteligente (ipsis leteris),

trumpismo pacífico (idem; é a mesma imbecilidade, somente mais ao norte),

pizza de sushi (ah… por favor!),

chicobuarque ruim (né?),

amor próprio não correspondido (Freud explica),

vacina bem-feita-nas-pressas (é como hospital, que ninguém gosta, mas não deixa de ir por não gostar dele),

filosofia terraplanista (jamais misture filosofia com idiotice),

ressaca amiga (o pior inimigo do teu corpo é você mesmo),

“lançarei meu filho a candidato por não haver ninguém melhor” (vai plantar batatas!),

laive de finados (vida Ou morte, Severina),

livro ilegível (toda fruta tem sua metade no mundo, mesmo quando podre),

vício sadio (insisto: o pior inimigo do teu corpo é você mesmo),

astrólogo de jornal (astrologia não é meta-dados de computador),

diplomacia de hambúrguer (fake invenção bolsonazista nada: se chama nepotismo mesmo),

carnaval tranquilo (nem no melhor retiro),

lulismo sem petistas (a recíproca não é verdadeira),

física quântica aplicada (se ligue!),

comprimido pra emagrecer (“será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?”),

colonização civilizatória (genocídio com requintes de hipocrisia),

google grátis (o produto é você),

reforma trabalhista negociada com os capitalistas (a história de todas as sociedades é a história da luta de classes),

masturbação alheia (ai ai…),

desodorante eterno (não fode! Fede…),

monteirismo-lobato antirracista (se pode não gostar do racismo sem ser antirracista, mas não se recomenda, mau caráter),

infalibilidade papal (nem Francisco salva),

carne animal vegetal (o capitalismo é mestre em reinventar-se),

exilado covarde (todo gesto de amor próprio é um gesto de amor ao próximo),

dia-de-índio (é todo dia, cara-pálida),

música ruim (existe a que Você não gosta, nem eu; mas gosto é como cú: cada um, cada um…),

marxismo soviético (não esqueça que Marx disse que não era marxista também – ou até mesmo – por isso),

noite-sem-dormir recuperável (perdeu, fudeu),

nenhum mal que não venha para o bem (quem escreve sua própria história até mesmo pelas linhas mais tortas é você, pois adeusaSÓajudaquemcedomadruga).

Pode completar!

Escrevi esse texto do Não existe no ano passado, indignado por um juizinho desgraçado que qualificou o estupro de uma menina chamada Mariona Ferrer de estupro não culposo, como se a culpa fosse dela.

Foi um dos meus textos mais republicados no ano passado. Talvez mesmo porque, no final dele, eu pedia para as leitoras irem completando, aumentando, comentando…

Depois decidi incluir um parênteses pra acompanhar cada expressão inicial. Cada vez que o vejo, esse texto, eu brinco com ele, jogo com ele, o reinvento (me reinventando). Faça o mesmo. Fique à vontade.

Aqui os deixo, com uma versão mutante. Porque eu prefiro ser essa metamorfose ambulante…

Aquele abraço.

Flávio Carvalho é sociólogo, escritor e participante da FIBRA e do Coletivo Brasil Catalunya.

@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor. 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info e é de responsabilidade dele/a.

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