A Organização Mundial da Saúde (OMS) prepara um tratado mundial sobre pandemias, considerando que a próxima é inevitável. “Questão de tempo”, nas palavras da diretora-geral adjunta do órgão, Mariângela Simão. A entidade classifica que o enfrentamento da pandemia de covid-19 foi um “fracasso para a humanidade”, e especial sobre a mercantilização das vacinas, que deixa a parte mais vulnerável do mundo desassistida. Além do tratado, a entidade recomenda que os países da comunidade internacional adotem um modelo de saúde “único”, nos moldes do SUS brasileiro.
O possível tratado ainda não foi apresentado para a comunidade internacional, o que só deve acontecer em novembro. Para Mariângela, seria uma forma de “não só reforçar o papel da OMS” em uma situação de emergência de interesse público como essa. “Ela cria uma série de formalidades que os países e o setor privado têm que tomar no caso de uma emergência como uma pandemia mundial”, disse em entrevista para a RFI.
Mariângela afirmou que “o mundo precisa acordar” para as ameaças reais das pandemias. “Essa pandemia, depois da gripe espanhola, foi a mais impactante e é também uma constatação: acho que o mundo precisa acordar porque a gente vê que não foram apenas os países em desenvolvimento que fora afetados. Afetou o mundo todo, ninguém estava preparado. A Assembleia Mundial de Saúde, agora em novembro, estará discutindo a possibilidade de desenvolver um tratado para pandemias”, disse.
Como virá?
A ganância do mercado se revelou extraordinária durante a vacinação contra a covid-19. Em torno de 70% das vacinas foram distribuídas, até então, em apenas 10 países. O consórcio Covax Facility, liderado pela OMS para distribuir doses para países pobres, falhou. Menos de 30% da meta de 2,5 bilhões de doses em 2021 será atingida. Soma-se a isso a emergência climática e a devastação de áreas florestais. Não se sabe ao certo como nem aonde mas, provavelmente, a próxima pandemia deve surgir com o avanço do agronegócio em áreas de preservação.
Na verdade, são duas opções que lideram a lista de riscos. O avanço da devastação e o surgimento de bactérias super resistentes. “O diretor da Divisão de Doenças Infecciosas da Escola de Medicina da Universidade de Vanderbilt, nos EUA, David Aronoff, afirma que “é como se estivéssemos morando em uma rua cheia de esquinas”. Ele afirma estar “particularmente nervoso com infecções resistentes a antibióticos sobre as quais pensávamos ter controle, mas depois perdemos o controle. A gonorreia é um bom exemplo. É cada vez mais difícil de tratar com antibióticos e cada vez mais fácil de espalhar”.
Já a questão da devastação caminha em paralelo com o aumento constante de consumo de proteína animal. As últimas epidemias como da Aids, ebola, gripe aviária, Sars, Mers e covid-19 surgem do contato humano com animais silvestres. Mesmo a gripe espanhola não surge na Espanha. Ela tem início em fazendas criadouras de suínos nos Estados Unidos.
“Quando superlotamos fazendas com milhares de animais no espaço de um campo de futebol, que ficam com pata ao lado de pato, além do estresse que permeia seus corpos e derruba o seu sistema imunológico, há amônia destruindo os seus pulmões e uma falta de ar fresco e luz do sol: todos esses fatores juntos são o caminho certo para quem deseja criar uma epidemia rapidamente”, disse Michael Greger, biólogo e escritor de Gripe Aviária: Um Vírus com a Nossa Culpa, ao portal Vox.