Não importa que Bolsonaro seja corrupto, entreguista, antipovo e genocida, o que não dá para tolerar é que ele seja corno

Por Jair de Souza.

Nestes dias que antecedem às esperadas demonstrações de força previstas para 7 de setembro, algumas revelações sobre a vida íntima de Bolsonaro estão deixando em polvorosa as hostes do nazi-bolsonarismo. 

Em reportagens divulgadas pelas redes através de um canal de notícias, um ex-servidor da família Bolsonaro revelou várias de suas facetas íntimas. Uma dessas revelações está provocando pesadelos entre boa parte dos mais leais seguidores do atual ocupante do Palácio do Planalto. 

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A informação de que, enquanto Bolsonaro bradava sua virilidade pelos quatro cantos do país, sua então esposa andava fazendo outras coisas com alguém muito mais esperto significa um golpe dos mais demolidores contra tudo o que representa a fantasia moral daqueles que estão sempre dispostos a matar (a matar, mas não a morrer, claro) em defesa da honra de seu ídolo maior. 

É verdade que há muito tempo todo mundo já sabia do envolvimento de Bolsonaro com a apropriação indevida dos salários de seus auxiliares de gabinete parlamentar, os quais apareciam como recebedores de recursos públicos na qualidade de funcionários de assessoria parlamentar. Bem, este é um hábito que Jair Bolsonaro pode se orgulhar de haver incutido em todo o restante de sua família, já que seus três filhos que se dedicam às atividades políticas também enveredaram pelo mesmo caminho. Tanto assim que o termo “rachadinha” virou quase que uma grife associada ao clã Bolsonaro. 

No entanto, dentro da visão de mundo bolsonarista, é bastante compreensível que não haja nenhum clamor de indignação pela apropriação por parte de um deputado dos salários de todos aqueles que formalmente trabalham como seus assessores. Para quem entende que a missão de um deputado é defender os interesses dos mais espertos e tratar de aproveitar as oportunidades para enriquecer a si próprio, a tradição “rachadiniana” é muito mais um motivo para gerar orgulho do que decepção entre seus adeptos. 

Tampouco vem ao caso a vinculação de Jair Bolsonaro e todo seu clã com as atividades das milícias que atuam em várias regiões do Rio de Janeiro. Que essas milícias encabecem as mais constantes práticas criminosas daquelas áreas não é fator para causar o desconforto de nenhum de seus grandes apoiadores. 

O que de fato importa é que, tão logo assumiu suas funções presidenciais, Bolsonaro se pôs a executar aquilo que os que idealizaram e bancaram sua campanha esperavam que ele fizesse. Neste sentido, uma de suas primeiras medidas foi reforçar as iniciativas de seu antecessor Michel Temer na eliminação dos direitos trabalhistas ancorados na CLT. 

Para não ficar atrás neste quesito, Bolsonaro encampou também a luta pela reforma e destruição da previdência social. E seu sucesso foi tão estrondoso que poucos trabalhadores hoje em dia nutrem alguma esperança de se aposentarem com alguma dignidade. 

Porém, não ficaram por aí as proezas de Bolsonaro. Se o golpe de 2016 foi desfechado prioritariamente com o objetivo de retirar do controle nacional as jazidas petrolíferas do pré-sal, Bolsonaro soube como avançar célere e incontinentemente no caminho do desmantelamento, privatização e aniquilamento da Petrobrás. Mas, como nem só de petróleo vive a nação, ele também se lançou à desarticulação e privatização da Eletrobrás e dos Correios. Se era para fazer o desmonte da infraestrutura nacional, Bolsonaro demonstrou que sabia como agir. 

Por outro lado, para dar fé de seus compromissos em relação à ecologia, Bolsonaro entrou de cabeça no processo comandado por seu ministro Ricardo Salles, aquele que ficou famoso por comandar a passagem da boiada enquanto se discutia o que fazer com a pandemia. Já que a orientação geral era para privatizar, por que não considerar que todo o solo da Amazônia deveria se tornar pastagens para os ruralistas e seu gado? 

E, se há índios no caminho para obstaculizar o processo, quem vai se deter por receio a uns quantos pele-vermelhas? Portanto, hoje em dia, os jagunços dos ruralistas e os agentes dos garimpos e das mineradoras andam fazendo a festa pela região. 

Se isso não bastasse para mostrar a que veio, a chegada da pandemia de covid-19 permitiu que Bolsonaro pudesse dar seu toque de mestre em sua obra. E aqui não tem para ninguém, nem no Brasil nem no resto do mundo! Nenhum outro dirigente no planeta conseguiu alcançar a cifra de 600.000 mortos por esta enfermidade em menos de dois anos. Como a maioria desses falecidos eram aposentados e pensionistas do INSS que viviam das “mamatas” pagas pelos cofres públicos, podemos estimar quanto dinheiro sobrou para que os pagamentos sagrados de juros e dividendos dos títulos da dívida pública pudessem ser honrados. 

Mas, ainda não é tudo. Sabedor de que é em momentos de crise que o bom empreendedor sabe fazer grandes negócios, o governo Bolsonaro aproveitou-se da situação para arquitetar os mais ousados golpes contra a economia popular que a mente humana poderia vislumbrar. Se, até então, praticar corrupção era entendido como apropriar-se de 5, 10, 15 ou 20% dos valores dos processos agenciados, com as negociatas da roubalheira das vacinas, o governo Bolsonaro mostrou que nem o céu era limite para sua ousadia. 

Entretanto, enquanto avançava por esta trilha, Bolsonaro não estava só. Ele foi devidamente abençoado por certos pastores e padres que viam nele o grande messias capaz de conduzir o rebanho no caminho que os levaria ao paraíso (paraíso para esses pastores e padres, não para o rebanho, logicamente). O capital financeiro e os ruralistas souberam respaldar um governo que lhes era dos mais fieis. Nem era caso para os âncoras e comentaristas da rede Globo e do resto da mídia corporativa levantarem dúvidas ou indignações. Sendo assim, embora alguns percalços tenham aparecido no decorrer da trajetória, não havia nada de muito sério que pudesse desabonar junto a essa gente a conduta de Bolsonaro e sua mais que abençoada maneira de conduzir o governo no tocante à economia e direitos sociais. 

Caramba, mas, se o homem vem fazendo tudo certinho, tudo em conformidade com os interesses de quem abriu e traçou a rota que ele deveria seguir, por que tinha de aparecer logo uma denúncia do tipo que seus apoiadores não conseguem rechaçar ou ignorar? 

Sim, para eles, não há nenhuma dificuldade em continuar sustentando um governante que rouba, que destrói a nação, que favorece os milionários, que causa o desemprego e gera a miséria para milhões e milhões de famílias. O que não dá para tolerar é que o povo fique sabendo que o tal messias seja também um corno. 

Por isso, em lugar de gritar fora Bolsonaro, genocida, corrupto e entreguista, eles gostariam que todos se pusessem a gritar FORA CORNO. 

Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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