Deputado bolsonarista propõe vender a UERJ e entregar o dinheiro para escolas particulares

Dez reitores divulgaram nota em que apontam uma “guerra cultural contra universidades e ciências” em curso no Brasil promovido pelo governo Bolsonaro. Atualmente, há 28 mil estudantes matriculados na UERJ

Reitor da universidade, Ricardo Lodi Ribeiro, disse que “a proposta, tão inconstitucional quanto estapafúrdia, não merecerá apoio da esmagadora maioria da Alerj. Foto: Arquivo UERJ

Por Gabriel Valery, da RBA.

Apesar de sua oficialização, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT), reafirmou que não vai colocar o projeto em votação em sua gestão. “Enquanto eu for presidente, este é um debate que não vamos enfrentar”, disse o parlamentar.

Hoje, mais de 28 mil estudantes estão matriculados na instituição, que ainda conta com o Hospital Pedro Ernesto, entre outros ativos. Anderson Moraes tem ainda outro projeto relacionado à gestão da Uerj e das outras universidades estaduais do Rio, a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e a Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo). O PL 4.667/21 proíbe a realização de eventos político-partidários nos imóveis das universidades estaduais, além de vedar a filiação de reitores e vice-reitores a partidos.

Resistência

Mesmo com esforços de parte dos deputados fluminenses para se desfazer do patrimônio público, a resistência ao projeto já é ampla, formada por instituições de ensino e entidades nacionais de pesquisa. O reitor da Uerj, Ricardo Lodi Ribeiro, disse que “a proposta, tão inconstitucional quanto estapafúrdia, não merecerá apoio da esmagadora maioria da Assembleia Legislativa, que reconhece a importância da universidade para a população fluminense e brasileira, para a educação, a ciência e a tecnologia de nosso país, constituindo-se no maior projeto de inclusão social e na maior agência de políticas públicas do nosso estado”.

Por sua vez, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou carta para manifestar repúdio à proposta. “O artigo 309 da Constituição Estadual claramente determina a existência da mais antiga universidade estadual fluminense. Portanto a proposição é flagrantemente inconstitucional, mas deixa evidente uma estratégia deliberada de destruição da pesquisa e da formação de profissionais de alta qualidade. Até porque, o autor da proposição também sugere que recursos da UERJ sejam canalizados para instituições de ensino privadas”, afirma a entidade.

Um conjunto de dez reitores de universidades federais de todo o país também divulgou uma nota conjunta sobre o tema. Eles apontam uma “guerra cultural contra universidades e ciências” em curso no Brasil governado por Jair Bolsonaro. “Um ataque a toda a comunidade acadêmica e científica do Rio, que está mobilizada para a defesa da universidade pública, gratuita, referenciada socialmente e de excelência”.

Mais repercussão

“É claramente inconstitucional. Mas é bom não subestimar. Como ex-aluno e cidadão, estarei mobilizado para enterrar esse monstrengo de autoria de um obscuro deputado bolsonarista”, disse o advogado, ex-presidente da OAB-RJ, Wadih Damous.

A professora de Direito Penal e Criminologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luciana Boiteux, que chegou a disputar a vice-prefeitura carioca em 2016, ao lado do deputado federal Marcelo Freixo (Psol), disse que a expectativa é de derrubar o projeto ainda na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia. “PL de deputado estadual bolsonarista quer extinguir a UERJ, vender seus bens e dar bolsas de estudos em universidades privadas! Totalmente inconstitucional, é ataque à educação pública, ao ensino e à produção de conhecimento no estado. Total repúdio! Quando vc acha que já viu tudo, o PL avançou na ALERJ e precisará ser derrubado na CCJ”, disse.

Manifesto

Dirigentes de onze instituições de ensino e pesquisa do Rio de Janeiro divulgaram manifesto em defesa da Uerj, diante da publicação em diário oficial do Projeto de Lei nº 4.673/21, que propõe a extinção da universidade e a transferência do seu patrimônio e alunos para a iniciativa privada.

No manifesto, os dirigentes alertam que a proposta de extinção é “um ataque não só à Uerj, mas a toda comunidade acadêmica e científica do Estado do Rio de Janeiro”. Leia a íntegra do texto:

MANIFESTO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PESQUISA DO RIO DE JANEIRO EM DEFESA DA UERJ

Manifestamos nosso total e irrestrito apoio e solidariedade à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) diante da publicação em diário oficial do Projeto de Lei nº 4.673/21 que propõe a extinção da UERJ e a transferência do seu patrimônio e alunos para a iniciativa privada.

A UERJ ocupa um lugar de destaque na educação de jovens e na produção científica nacional, tendo sido pioneira na introdução do sistema de cotas entre as universidades brasileiras, o que contribuiu para a aceleração do processo de inclusão no ambiente universitário.

A proposta vem no contexto de uma guerra cultural contra as Universidades e a Ciência, constituindo-se em um ataque não só à UERJ, mas a toda comunidade acadêmica e científica do Estado do Rio de Janeiro, que está mobilizada para a defesa da Universidade pública, gratuita, referenciada socialmente e de excelência.

Estamos confiantes que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro não chancelará tal iniciativa, cuja aprovação constituiria grave prejuízo para a educação, a ciência, a tecnologia, o desenvolvimento econômico e a inclusão social em nosso Estado e nosso País.

Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2021.

Antonio Claudio Lucas da Nóbrega (Reitor – UFF)
Denise Pires de Carvalho (Reitora – UFRJ)
Jefferson Manhães de Azevedo (Reitor – IFF)
Luanda Moraes (Reitora -UEZO)
Maurício Saldanha Motta (Diretor Geral – CEFET)
Oscar Halac (Reitor – Colégio Pedro II)
Rafael Barreto Almada (Reitor – IFRJ)
Raul Ernesto Lopez Palacio (Reitor – UENF)
Ricardo Lodi Ribeiro (Reitor – UERJ)
Ricardo Silva Cardoso (Reitor – UNIRIO)
Roberto de Souza Rodrigues (Reitor – UFRRJ)

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