Covid-19: alerta sobre a variante delta se intensifica no Brasil nesta semana

Cepa que já amplia crescimento da covid em vários países caminha para virar predominante em território nacional

Imagem de microscópio eletrônico mostra o vírus que causa a covid em uma célula cultivada em laboratório (Foto: Niad/ Fotos Públicas)

Por Nara Lacerda.

A primeira semana de agosto no Brasil foi marcada por confirmações sobre o avanço da variante delta do coronavírus em território nacional. A cepa é comprovadamente mais infecciosa e vem causando novos picos do surto até mesmo em nações que já tinham a propagação mais controlada.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem hoje mais de 240 contaminados pela mutação do vírus. Mas esse número diz respeito ao trabalho de sequenciamento genético do vírus, que é feito em escala muito pequena no país.

Os sinais de que a situação é bem pior vêm dos estados e municípios. Já está confirmada a transmissão comunitária nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Paraná. Isso significa que o vírus já está se propagando internamente e os casos não têm mais origem apenas em pessoas que viajaram para outros países.

Há casos em pelo menos 11 unidades da federação e indícios de que a cepa caminha para se tornar predominante no país. Na Grande São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz detectou que a delta está em mais 23% dos novos registros de contaminação. Na cidade do Rio de Janeiro, a prevalência é de 45%.

Foi nesta semana também que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertou sobre o crescimento da variante na América Latina e Caribe. Vinte países já confirmam a presença da variante delta. Frente a uma vacinação que alcançou apenas 18% da população, as nações do bloco precisam correr contra o tempo.

No podcast A Covid-19 na Semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o Brasil parece ignorar o aprendizado sobre o comportamento do vírus.

“A gente tem visto o mundo ficar alerta. Países que antes já estavam liberando o uso de máscaras e as pessoas a se aglomerarem, estão voltando a fechar. Chama a atenção o que está acontecendo e aqui no Brasil parece que ninguém está se preocupando com isso”, aponta Aristóteles.

Por que ela preocupa?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que, em julho, o número de novas infecções teve alta de cerca de 80% em cinco regiões do globo. “Muito desse aumento está sendo carregado pela variante delta, altamente transmissível, que agora foi detectada em pelo menos 132 países”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS.

Ela vem causando recordes de números diversas nações da Ásia, alguns deles com histórico de sucesso no combate ao coronavírus até agora, como é o caso do Vietnã. Outras nações do sudoeste asiático também encaram colapso, como Indonésia, Tailândia e Malásia.

Em outros pontos do continente, o sinal de alerta também está ligado. O Japão de registrado recordes diários de infectados, em meio à realização das Olimpíadas. Na China, o governo voltou a determinar confinamento da população para frear a propagação.

Voltando ao continente americano, nos Estados Unidos um documento divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), deu o tom para as proporções que o vírus pode tomar.

Segundo o órgão, a delta tem níveis de transmissão que se assemelham aos da catapora, doença altamente infecciosa. A variante do coronavírus é mais rápida que o ebola, a varíola e a gripe.

Ainda de acordo com o documento do CDC, a mutação infecta vacinados e não vacinados igualmente. Mas entres os que não têm a imunização, os efeitos são piores e os óbitos mais recorrentes. Quem já está protegido não desenvolve sintomas graves.

“O que a gente tem visto é quase matemático. Onde a delta já se tornou predominante, a gente vê aumento no número de casos. Mas nos países onde a vacinação está bem avançada, a gente não vê tanto impacto na gravidade. Em compensação, países que estão menos vacinados, a gente vê esse impacto”, alerta o médico Aristóteles Cardona.

Isso talvez explique a mudança de perfil dos pacientes que acabam morrendo. Nos Estados Unidos, mais de 99% dos casos fatais ocorrem entre quem não tomou nenhuma dose do imunizante. Mais de 40% dos internados têm entre 18 e 40 anos, faixas etárias que menos buscam a vacina.

Entre os países da Ásia que estão encarando agravamento da crise sanitária, a imunização também não está avançada. Mas mesmo na Europa, as nações avançadas na aplicação das doses vêm registrando alta de casos.

Ainda não há conclusões sobre a letalidade da variante delta. Mas, cada vez mais, relatos de equipes de saúde se espalham nas redes sociais e na imprensa, assustadas com a velocidade de evolução da doença no corpo humano.

No Brasil, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na última terça-feira (3), também aponta preocupações com as populações ainda não vacinadas mais jovens e com a faixa etária acima de 80 anos, para a qual a imunização tem efeito mais brando.

Cardona alerta que a situação exige preparo do país, “A gente não pode esperar que não vai ter impacto. O quanto esse impacto vai ser dar, a gente ainda ver, mas a gente precisa se preparar”, enfatiza.

E reforça que o caminho mais seguro para redução de casos é o aumento da vacinação no país. “Tudo isso, no final das contas, aponta para a importância da vacinação, que a gente tem que acelerar. A vacina nos protege. É isso que vai nos ajudar, uma vacinação mais acelerada, mais rápida, para que a gente se proteja mais e tente ter um impacto menor nas próximas semanas e meses”, conclui o médico.

Edição: Anelize Moreira

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