Diretora da Precisa age na CPI a favor do patrão e do governo Bolsonaro

O advogado Ticiano Figueiredo orienta Emanuela Medrades na CPI (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Por Iram Alfaia

A diretora-executiva da Precisa Medicamentos, Emanuella Medrades, depõe na CPI da Covid nesta quarta-feira (14) no intuito de proteger Francisco Maximiano, dono da empresa, que será ouvido em agosto. Tanto que chama atenção a orientação excessiva do advogado Ticiano Figueiredo para empregada, sendo que o profissional também é o mesmo do patrão.

Ela responde sobre os índicos de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin, intermediada pela empresa entre a farmacêutica Barach Biotech e o Ministério da Saúde. O imunizante foi comprado por R$ 1,6 bilhão numa transação considerada fraudulenta. Foram 20 milhões de doses ao preço unitário de US$ 15 dólares, considerada a mais cara já comprada pelo governo Bolsonaro.

Na questão mais polêmica, ela negou que tenha apresentado no dia 18 de março a primeira invoice (nota fiscal internacional) ao Ministério da Saúde conforme declararam o diretor de logística da pasta, Luiz Ricardo Miranda, e o consultor William Santana em depoimento à CPI.

“A invoice só foi enviada no dia 22 e eu desafio para provarem ao contrários os senhores William e Luis Ricardo”, disse a depoente, que só nesta quarta-feira quebrou o silêncio, uma vez que novo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) deu poderes à comissão até para prendê-la caso usasse o direito concedido pelo habeas para obstruir os trabalhos.

Exposta a um vídeo de uma audiência no Senado no dia 23 de março, quando ela mesmo diz que entregou o documento na quinta-feira passada, portanto dia 18, a depoente afirmou que no vídeo não entrava em detalhes.

Após ela manifestar o desejo de sofrer acareação, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) declarou:  “A Comissão é inteligente. É muito inteligente. E aqui não tem bestinha. Concordo. Ela tá pedindo acareação, acho que nós devemos fazer acareação, até porque ela é que está sendo acusada e ela faz questão de fazer acareação”, disse Aziz.

No documento, pedia-se o pagamento antecipado de US$ 45 milhões, quantidade insuficiente de doses e faturamento em nome da Madison Biotech, uma offshore com sede em Cingapura, paraíso fiscal. Todos esses itens estão fora do contrato.

O depoimento dela foi ao encontro da posição dos governistas que alegam a não existência da invoice quando o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o seu irmão Luis Ricardo, que confirmou o recebimento do dia 18, levaram a denúncia a Bolsonaro num encontro no dia 20 de março, no Palácio da Alvorada.

O presidente teria prometido acionar a Polícia Federal e culpou seu líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como responsável pelas negociações. Bolsonaro está sendo acusado de prevaricar por não levar a denúncia aos órgãos de controle.

Contradições

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) disse que as contradições apresentadas no depoimento são muitas. “Elas vão além dessa posta neste vídeo. Até porque isso hoje não tem mais importância porque o próprio presidente da República já confirmou que recebeu as denúncias. Ele não confirmou ainda, e é importante que confirme, é se falou do líder do seu governo ou se não falou. É isso apenas o que precisa ser comprovado com relação ao que envolve essa discussão”, afirmou o relator.

Apesar de uma reunião no dia 20 de novembro no ministério (registrada em ata) confirmar o preço da vacina em US$ 10, Medrades negou a ofertada. Segundo ela, o valor era apenas uma expectativa.

Diante das contradições, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse que a ordem “cronológica dos acontecimentos” só depõe contra a Emanuela. “Eu gostaria aqui, com muita tranquilidade, de dizer a você, que tem idade pra ser minha filha: o seu depoimento pra mim não acrescenta nada contra a materialidade. Pra mim está comprovado que é um contrato fraudulento, superfaturado, de um esquema de propina dentro do Ministério da Saúde.”

De acordo com ela, a CPI já possui oitiva de testemunhas, vídeos, e-mails e o contrato. “Aqui o que nós estamos buscando é autoria, quem são os autores destes crimes contra a administração pública: possível crime de peculato, de corrupção ativa, de corrupção passiva, de advocacia administrativa, de tráfico de influência, de organização criminosa”, disse.

Pediu serenidade a depoente. “Eu não gostaria nunca de vê-la como a mão do gato. Sabe o que que é a mão do gato? Aquela que é usada para que terceiros possam se aproveitar e cometer alguma irregularidade”, aconselhou.

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