Para a pós-doutora em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB) Denise Mantovani, o governo Bolsonaro é uma ameaça à sociedade brasileira “em todos os sentidos”. A participação dos militares no governo mostra um processo de “ruptura democrática” já em andamento. Além de serem corresponsáveis pelo descaso no combate à pandemia, os militares se veem envolvidos em suspeitas de corrupção na compra de vacinas.
Acuados pela perda de popularidade do governo, como mostra a pesquisa Datafolha divulgada no final de semana, Bolsonaro e os militares reagem mandando prender opositores. Além disso, o atual governo vem destruindo políticas públicas nas mais diversas áreas.
De acordo com Denise, é fundamental que os movimentos sociais e a população em geral se expressem publicamente nas ruas. As pressões servem para que os demais poderes entendam que há um “sentimento popular majoritário” que considera que o atual governo não tem mais condições de continuar.
“Esse governo precisa ser interrompido, para que a gente tenha condições de barrar o processo de destruição que estamos vivendo. Seja social, ambiental, econômica ou da infraestrutura do Estado, que está sendo desmontado”, afirmou Denise, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (12).
Ela citou que são mais de 6 mil integrantes das Forças Armadas ocupando cargos na administração federal. “Não podemos achar uma coisa normal um governo civil ser executado por um número muito grande de militares. É um governo gerido por militares, com um líder com essa postura virulenta, agressiva e misógina”.
Escalada autoritária
Denise destacou as prisões de um cozinheiro e uma manifestante durante passagem de Bolsonaro pelo Rio Grande do Sul no final de semana. Além disso, um tatuador que participou das protestos contra Bolsonaro no início do mês, em São Paulo, segue preso preventivamente. Ela alerta que o governo federal vem promovendo um “recrudescimento” da violência institucional, que aposta na “criminalização” das manifestações contra o governo.
Diante das ameaças generalizadas, a cientista política anota que o comportamento da imprensa tradicional vem mudando. Já não há mais, por exemplo, a associação direta entre vândalos e manifestantes. Isso porque, segundo ela, esses veículos passaram a perceber que Bolsonaro ameaça até mesmo liberais e conservadores que anteriormente o apoiaram.
Misoginia
Outro exemplo dessa escalada autoritária, de acordo com a especialista, são as ameaças do advogado Frederick Wassef à jornalista Juliana Dal Piva, do portal UOL. As investidas do defensor da família Bolsonaro ocorreram após Juliana produzir reportagem especial revelando o envolvimento direto do presidente em suspeitas de desvio de dinheiro público naquilo que ficou conhecido como escândalo das rachadinhas.
Segundo Denise, casos como esse provocam um “efeito-onda”, estimulando os apoiadores de Bolsonaro a repetirem as mesmas atitudes misóginas contra as mulheres. “É como se houvesse um sinal verde dado de cima para baixo para violências autoritárias no ambiente social. Isso nos leva à destruição do outro, simplesmente porque esse outro está cumprindo com sua tarefa profissional.”
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