O volume de investimentos no Brasil despencou nos últimos anos e é “o mais baixo em duas décadas”. Os dados foram publicados nesta segunda-feira (21) pela Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
Na comparação entre 2019 e 2020, por exemplo, o investimento direto no País recuou de US$ 65 bilhões para US$ 24,8 bilhões. “Na média mundial, a queda foi de 35% e atingindo um total de US$ 1 trilhão. Nos países ricos, a contração chegou a 58%. Mas, ainda assim, abaixo do desabamento registrado no Brasil”, afirma o jornalista Jamil Chade, nesta segunda, em sua coluna no UOL.
A situação brasileira reflete as seguidas crises políticas e econômicas vividas desde 2013, com as “Jornadas de Junho”, a operação Lava Jato, o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e ascensão ilegítima de Michel Temer (MDB) ao poder. O cenário se agravou ainda mais com o governo Jair Bolsonaro e a pandemia de Covid-19.
“O isolamento do País ganha contornos econômicos reais”, resume Jamil Chade. “Com uma contração recorde de 62% na atração de investimentos por conta da incapacidade de controlar a pandemia da Covid-19 e diante das incertezas sobre os destinos econômicos e políticos do país, o Brasil despencou no ranking da ONU dos locais que mais receberam recursos externos em 2020.”
A política econômica desastrosa de Bolsonaro levou o País da sexta posição no ranking da ONU de atração de investimentos em 2019 para o 11º lugar no ano passado. Mesmo na América Latina, onde o Brasil despontava sempre à frente na captação de investimentos, a liderança está, agora, com o México.
Até o fim da gestão bolsonarista, as Nações Unidas descartam avanços para a economia brasileira: “A incerteza política e a crise sanitária podem perpetuar um baixo nível de investimentos no País. As estimativas avaliam que o atual ano pode registrar uma variação entre -5% e +5% no fluxo”, escreve Chade, com base no relatório da ONU.
Segundo o documento, o Brasil, sob Bolsonaro, experimentou “tanto a maior incidência de casos e mortes da Covid-19 na região quanto uma severa contração econômica”. Diante disso, porém, foram adotadas apenas “medidas suaves de contenção da mobilidade da população”.
O péssimo desempenho do Brasil puxou a crise de toda a América Latina, que, segundo a coluna de Jamil Chade, “registrou uma contração de 45% no fluxo de investimentos, somando US$ 88 bilhões. O declínio foi o mais acentuado entre as regiões em desenvolvimento”. Conforme a Unctad, “Chile, Colômbia e México geraram quase todos os investimentos externos da América Latina”.
No geral, porém, o continente vive uma combinação explosiva: “maior taxa de mortalidade por Covid”, “colapso na demanda de exportação”, “queda nos preços das commodities” (no primeiro semestre de 2020) e “desaparecimento do turismo”. A ONU conclui: “A América Latina é severamente afetada pela crise da Covid-19, e sua recuperação pode ficar atrás da de outras regiões”.