Reportagem do site The Intercept Brasil publicada neste sábado (24) traz detalhes dos grampos telefônicos do grupo do miliciano e ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto em uma ação da polícia da Bahia em 9 de fevereiro de 2020. Após a morte, cúmplices de Adriano fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de vidro”.
Segundo a reportagem de Sérgio Ramalho, fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro ouvidos na condição de anonimato acreditam que o conjunto de circunstâncias relacionadas aos diálogos permite concluir que os nomes seriam referências ao presidente Jair Bolsonaro. “O cara da casa de vidro”, por exemplo, diria respeito aos palácios do Planalto, sede do Executivo federal, e da Alvorada, residência oficial do presidente. As duas construções tem fachadas de vidro.
Os diálogos transcritos fazem parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio, feito a partir das quebras de sigilo telefônico e telemático de suspeitos de ajudar Adriano da Nóbrega no período de 383 dias em que esteve foragido.
O Ministério Público Estadual, após as citações, pediu que fossem encerradas as escutas dos envolvidos nas conversas, o que reforça a ideia de que as menções seriam de fato a Bolsonaro. O MP estadual não pode investigar o presidente da República e, nesse tipo de situação, deve encaminhar o processo à Procuradoria-Geral da República, que pode prosseguir ou não a investigação.
Segundo o The Intercept Brasil, em 9 de fevereiro de 2020, horas depois da morte de Adriano da Nóbrega, Ronaldo Cesar, o Grande, que seria um dos elos entre os negócios legais e ilegais do miliciano, diz a uma mulher não identificada que iria telefonar para o “cara da casa de vidro”. Na ligação, ele relata ainda que quer saber “como vai ser o mês que vem” e que a “parte do cara tem que ir”.
As citações dos diálogos
Em 13 de fevereiro de 2020, Grande fala com um homem supostamente não identificado, que tem ao lado, entre parênteses, a descrição “PRESIDENTE” em letras maiúsculas, de acordo com o relatório. O interlocutor se coloca à disposição caso Ronaldo venha a ter algum problema futuro com a família de Adriano devido à divisão de bens. Somente duas frases do diálogo de 5 minutos e 25 segundos foram transcritas.
No mesmo dia, o nome “Jair” aparece em conversas de outros cúmplices de Adriano da Nóbrega, o pecuarista Leandro Abreu Guimarães e sua mulher, Ana Gabriela Nunes. O casal teria escondido o miliciano em uma fazenda da família em um determinado período em que Adriano esteve foragido, de acordo com as investigações. Ana Gabriela relata a uma interlocutora, identificada como “Nina”, que “Leandro está querendo falar com Jair”.
Minutos depois, Ana Gabriela faz outro telefonema e, no campo de comentários, o documento sugere que o diálogo aconteceu entre Gabriela e Jair. Não há a íntegra da transcrição e os analistas reproduzem a mesma frase destacada anteriormente: “Gabriela diz que Leandro quer falar com Jair”.
Confira a íntegra da reportagem do The Intercept Brasil.
Adriano da Nóbrega e a família Bolsonaro
A família Bolsonaro tem longa relação com os milicianos da zona oeste do Rio de Janeiro. O senador Flávio Bolsonaro, quando exercia o mandato de deputado estadual, nomeou a mãe e a ex-mulher de Adriano da Nóbrega em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.
De acordo com as investigações do Ministério Público do Rio, Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Nóbrega recebiam sem trabalhar e devolviam parte dos salários ao ex-PM Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio Bolsonaro. No inquérito das ‘rachadinhas’, o MP protocolou uma denúncia contra o hoje senador, citando Adriano como um dos envolvidos no episódio.
Flávio também já entregou a medalha Tiradentes, principal honraria da Assembleia fluminense, a Adriano da Nóbrega. O presidente Bolsonaro, em 2020, justificou a homenagem e disse que o miliciano, em 2005, era “um herói da Polícia Militar”.
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