O tratamento precoce com o chamado ‘kit-covid’ não é devastador apenas para o fígado, como já foi relatado diversas vezes, mas também para os rins. Essa é a constatação de médicos que trataram de pacientes que fizeram uso dos medicamentos que compõem o kit, como cloroquina, ivermectina e azitromicina.
Segundo médicos que estão na linha de frente da pandemia, a combinação desses medicamentos é considerada “uma bomba” no corpo que provoca danos graves no fígado e rins dos pacientes que chegam às UTIs depois de terem abusado dos remédios.
O ‘kit-covid’ é estimulado pelo governo federal, e o presidente brasileiro é um entusiasta dos medicamentos. Ao fazer propaganda do uso desses remédios sem eficácia contra a Covid, Bolsonaro estimula milhões de pessoas a ingerirem os fármacos.
O coordenador de assistência do Hospital das Clínicas da Unicamp, Plínio Trabasso, afirma que os medicamentos podem causar um “efeito cascata” no corpo do paciente.
Trabasso diz que o uso dos medicamentos combinados por um longo período começa comprometendo o fígado, responsável por filtrar tudo o que ingerimos, causando uma grave inflamação por excesso de medicamentos —a hepatite medicamentosa. Quanto mais tempo e maior a quantidade que o paciente tomar dos remédios, pior deve ser o grau da infecção.
A consequência é um comprometimento do trabalho dos rins, que também filtram e regulam a quantidade de compostos presentes no organismo, e podem até parar de funcionar. Os pacientes que chegam a esse estágio começam a apresentar urina com “cor de café” e uma dor “insuportável” para urinar, afirma o médico.
“Tudo isso porque essas medicações têm efeitos colaterais, como qualquer remédio. Mas com algumas diferenças: quando você faz um coquetel de remédios, você potencializa os efeitos adversos de todos, faz com eles se combinem. No caso da covid, você ainda está tomando uma quantidade absurda de remédios que sequer fazem efeito para a doença. O único ‘ganho’ é o risco de ter um quadro mais grave”, afirma o infectologista Plínio Trabasso.
O próprio tratamento fica mais difícil porque os remédios fazem com que o sistema imunológico fique “super-resistente” a outros remédios. Nem os antibióticos mais fortes costumam fazer efeito, relatam os profissionais de saúde. O fim pode ser uma septicemia, a infecção generalizada do corpo, levando à morte.
Segundo o CFF (Conselho Federal de Farmácia), o total de unidades vendidas de ivermectina subiu 557% em 2020 em comparação com 2019, sendo dezembro o mês recordista de vendas da droga.
A AMB (Associação Médica Brasileira) divulgou uma nota afirmando que o uso de cloroquina, ivermectina e de outros fármacos recomendados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tratamento ou prevenção da covid-19 deve ser banido.
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