Em live promovida na noite desta quarta (31) pela deputada federal Marília Arraes (PT-PE), o ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos Paulo Vannuchi falou sobre a herança do regime militar e a trágica conjuntura atualmente vivida pelo Brasil , assolado pela pandemia de coronavírus e governado por Jair Bolsonaro. Integrante da Comissão Arns, Vannuchi comparou ambos como sendo momentos de “celebração da morte” na história brasileira. O encontro lembrou 57 anos do golpe de 1964.
Vannuchi lamentou que o Brasil não tenha processado os militares, policiais e civis, que participaram das atrocidades do regime militar, personagens “que até hoje seguem negando, mas sabem onde estão os restos mortais” de mortos e desaparecidos, vítimas da ditadura. “E, nesse sentido, criam um crime permanente, um crime imprescritível”, completou o ativista. Um trabalho de diálogo e conscientização, em sua opinião, podem paulatinamente evitar que Agulhas Negras (academia militar de ensino superior do Exército) continue sendo “uma fábrica de Bolsonaros”.
Villas Bôas e Pujol
Porém, Vannuchi ressalvou que sua observação não aponta para uma generalização. Para ele, é preciso distinguir as condutas de Eduardo Villas Bôas, por exemplo, e a de Edson Leal Pujol, ambos ex-comandantes do Exército. No entanto, este último “incomodava” Bolsonaro por sua insubordinação aos desmandos autoritários do chefe do governo. “Pujol se recusou a dar as mãos a um presidente genocida. Pelo seu trabalho, obteve uma contaminação dez vezes menor (de covid-19) do que na sociedade. Por isso foi demitido.” No ano passado, viralizou nas redes as imagens de Bolsonaro tentando cumprimentar Pujol e receber como resposta o cotovelo do general, então máxima autoridade do Exército, como manda o protocolo médico contra o coronavírus.
Já Villas Bôas, em abril de 2018, se manifestou no Twitter com mensagens pouco claras, que foram interpretadas como ameaça ao Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, o STF estava prestes a julgar um habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva que poderia colocar em liberdade o ex-presidente.
Conscientização
Para a conversa virtual de ontem, Marília convidou também o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. “Tanto Felipe como Paulo possuem relação muito forte com a defesa da democracia e a luta contra os desmandos de Bolsonaro. Ambos também têm muito a acrescentar neste debate sobre o golpe.”, afirma Marília.
Marília Arraes defendeu que é preciso conscientizar as pessoas para que, futuramente, se dissemine a compreensão dos motivos pelos quais o país chegou ao cenário atual, “por não conhecer a História”. As gerações mais jovens não sabem o que significou a ditadura iniciada em 1964, destacou. “A gente precisa aprender com este momento histórico, com a situação”, disse a deputada, tanto em relação à pandemia e à condução da crise por Bolsonaro como às ameaças contra a democracia protagonizadas pelo governo.
Marília também falou sobre a conscientização da população para que o cidadão compreenda o processo histórico, para além da capacidade de consumo que lhe permite “ter carro, moto ou casa”. Em sua opinião, a falta de consciência impede que as pessoas relacionem, por exemplo, o “momento terrível” da atualidade e as manifestações de 2013, “que muita gente achou bonitinho”. No entanto, a parlamentar lembrou que foi naquele momento que começou o golpe que culminou no impeachment de Dilma Rousseff. E consequentemente levaram o país a eleger Jair Bolsonaro. “Que a gente trabalhe (na conscientização) para não acontecer de novo”, finalizou.