Entre 1.500 e 2.000 pessoas se reuniram na tarde deste sábado (20) em Paris para protestar contra uma eventual dissolução do movimento de extrema direita “Geração Identitária”. O governo francês anunciou há alguns dias o desmantelamento da organização, uma iniciativa denunciada por lideranças ultraconservadoras.
Membros e simpatizantes do “Geração Identitária” se reuniram na praça Denfert-Rochereau, no sul de Paris. “Estamos na nossa casa!”, “Querem acabar conosco porque temos uma identidade!”, gritaram os manifestantes. Muitos não usavam máscara e vários militantes exibiam bonés com a frase “Make America Great Again” (Torne a América Grande Novamente), slogan de campanha do ex-presidente americano Donald Trump.
Há cerca de uma semana, o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, anunciou que deu início a um processo para a dissolução deste movimento de extrema direita, exigida há meses por lideranças progressistas do país. Há vários anos o grupo supremacista branco, ultranacionalista e anti-imigração , que conta com menos de mil integrantes, ganha notoriedade promovendo ações midiáticas e extremas.
Em janeiro, militantes do “Geração Identitária” ocuparam regiões da fronteira entre a França e a Espanha alegando lutar contra “o risco terrorista e migratório no local”, um ato duramente condenado pelo governo francês. Em junho passado, durante uma manifestação contra as violências policiais e antirracismo em Paris, o grupo exibiu faixa com a mensagem “justiça para as vítimas do racismo antibrancos”, escandalizando o país.
Homenagem a figuras polêmicas
Durante o protesto deste sábado, líderes do “Geração Identitária” voltaram a elogiar e a agradecer personalidades controversas da França, como o jornalista e escritor Eric Zemmour – que já foi investigado por provocação pública à discriminação, ódio e violência – e figuras do partido de extrema direita Reunião Nacional, liderado pela pré-candidata à presidência Marine Le Pen.
A legenda não enviou nenhum representante oficial à manifestação. No entanto, no último 14 de fevereiro, denunciou a iniciativa do governo de dissolver o movimento como “uma decisão política” e “um perigoso ataque às liberdades fundamentais”.
“A decisão de acabar com o ‘Geração Identitária’ não faz sentido. Em nenhum momento eles violaram a lei. Isso é um gesto político”, afirmou Patrick Hays, vice-presidente da Instituição Jean-Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen.
“Se o ‘Geração Identitária’ for dissolvido, amanhã qualquer movimento de oposiçã poderá ser desmantelado sob esse abuso de poder. É extremamente problemático: isso se chama tirania”, declarou Florian Philippot, membro do partido de extrema direita Os Patriotas e ex-integrante do Reunião Nacional.
Resposta antifascista
No mesmo momento do protesto do “Geração Identitária”, também no sul da capital francesa, uma centena de manifestantes se reuniu após a convocação de uma central sindical para dar “uma resposta antifascista social”. O ato foi proibido pela secretaria de Segurança Pública pelo pedido “tardio” para a realização.
Um pouco após o início da mobilização proibida, a polícia dispersou os militantes. Um dos participantes, Jérôme Rodrigues – figura emblemática dos “coletes amarelos” – foi detido para interrogatório, mas liberado pouco depois.
“É escandaloso terem proibido uma manifestação pacífica como a nossa. Tem mais policiais do que participantes. Enquanto isso, os neonazistas estão reunidos tranquilamente perto daqui”, disse a militante Karine, de 36 anos, referindo-se ao protesto do ‘Geração Identitária’.
Muitos manifestantes “antifa” tentaram se infiltrar no ato da extrema direita, provocando momentos de tensão. No total, 26 pessoas dos dois campos foram detidas pela polícia.