Até a vacinação em massa, o ensino seguro é o ensino remoto.

    Carta aberta do/as Professores/as do CEJA Florianópolis à Comunidade Escolar.

    Foto Reprodução Rede Brasil Atual

    Nós, professores/as do CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) Florianópolis, gostaríamos de expressar nossa grande preocupação com a situação sanitária de Florianópolis e do Brasil e a enorme irresponsabilidade que seria o retorno das atividades escolares presenciais sem que antes ocorra a VACINAÇÃO COLETIVA DE TODA A COMUNIDADE ESCOLAR (estudantes, servidores/as, professores/as, trabalhadores/as da cozinha, segurança e limpeza). NÃO NEGOCIAMOS VIDAS!

    A pandemia de Covid-19 que impedia a realização de atividades escolares presenciais no Brasil em 2020 se mostra ainda pior no Brasil de 2021. O Brasil contabiliza mais de 9 milhões de casos confirmados de COVID-19 e mais de 221mil de mortes em decorrência desse vírus. Quinta-feira, dia 28 de Janeiro, 1439 pessoas morreram no Brasil por COVID-19, é o terceiro maior número de mortes por COVID-19 em um dia no Brasil e um crescimento de 10% de mortes em relaçãoo ao dia 15 de Janeiro. As mortes e a contaminação estão aumentando.

    Das 16 regiões de nosso Estado, 15 estão em situação GRAVE OU GRAVÍSSIMA . No dia 28 de Janeiro a taxa de ocupação de UTI no nosso Estado era de 75%. Florianópolis é a segunda cidade com mais casos de COVID-19 no Estado. Dia 25 de Janeiro tínhamos 2571 casos ativos. Possuímos um sistema de transporte coletivo que não comportaria o transporte de estudantes, servidores/as, trabalhadores/as e professores/as de todas as escolas de maneira segura, com número de pessoas reduzido dentro dos ônibus. E sabemos que a grande maioria de nossos estudantes e trabalhadores/as da educação se desloca por meio do transporte coletivo.

    Falando sobre segurança, o prédio que abriga a Matriz do CEJA dificilmente teria condições sanitárias para se realizar o trabalho educacional de forma segura. É um prédio antigo que foi adaptado em escola e que teve quartos transformados em salas de aulas pequenas e com pouca ou nenhuma ventilação natural. Não há pátio descoberto ou quadra de esportes, a sala adaptada a estudantes com deficiência não possui ventilação natural. Além disso, o CEJA é uma escola descentralizada e boa parte das aulas oferecidas são em outras escolas, em espaço cedido. A organização e o controle destes espaços ficará por conta da escola que oferece o espaço ou por conta da direção do CEJA? Uma função a mais que o/a professor/a será forçado a assumir?

    Mas não é apenas a contaminação que está aumentando, o vírus também está se modificando. No sul da Inglaterra surgiu uma mutação que cientistas acreditam ser capaz de infectar um número muito maior de crianças . Em Manaus (Amazonas) e em Sa?o Paulo foi detectada uma nova variante da COVID-19, chamada P15, que esta? se espalhando rapidamente pelo Brasil. Essa nova variante é mais transmissível, mais perigosa e mais mortal e capaz de infectar pessoas que já tinham sido contaminadas anteriormente. Uma pesquisa da Universidade de Granada, Espanha, calculou que,ao se colocar 20 crianças em uma sala de aula, com 10 dessas crianças sendo o/a único/a filho/a de uma famiíia de 3 pessoas, em um dia teremos exposto 74 pessoas. Em dois dias, expusemos 808 pessoas. Após 3 dias, são mais de 15.000 pessoas expostas a contaminação.

    No Plano de Contingência Estadual, o Governo do Estado reconhece que o vírus da COVID-19 é altamente contagioso e que “a transmissão ocorre enquanto o paciente está assintomático ou tem sintomas leves (5 até 14 dias)” (p.07). Contudo, este mesmo plano não garante a testagem diária de professores/as, estudantes, servidores/as ou trabalhadores/as da escola. Ou seja, o Governo do Estado sabe que a transmissão do vírus ocorre mesmo por quem está sem sintomas, mas em nenhum documento assegura que teremos testes diários nas escolas para evitar que pessoas contaminadas mas que não apresentam sintomas circulem pelas nossas escolas e contaminem a todos.

    Apesar de todo este cenário, nossa Secretaria de Educação e Governo do Estado de Santa Catarina planejam realizar o retorno de atividades presenciais em escolas. Em nenhum momento nós, trabalhadores/as da educação, fomos chamados/as para debater esses modelos. O governo nos promete que profissionais que forem grupo de risco poderão trabalhar de forma remota. É muito pouco. A própria definição de quem seriam os/as profissionais que estão no grupo de risco e poderiam realizar trabalho remoto é limitada . Um/a professor/a que tenha filhos/as, marido, esposa, companheiro/a com alguma doença respiratória crônica, cardiopatia, diabetes, hipertensão, deficiências, baixo sistema imunológico (como pessoas que estão realizando quimioterapia) não possui direito ao trabalho remoto. Esse professor irá dar aulas presenciais, como não tem testagem diária de todas as pessoas que circulam na escola, ele pode pegar o vírus de alguém que não tenha sintomas e levar o vírus para sua família, contaminando seu filho/a, esposa, marido que é do grupo de risco. Não aceitamos isso.

    As pessoas que são do grupo de risco precisam ser protegidas e devem receber a vacinação prioritária. Contudo, sabemos que a COVID-19 e especialmente essa nova variante do vírus também mata pessoas jovens e adultas que não estão no grupo de risco. A certeza neste momento é que, se houver o retorno de atividades escolares presenciais antes da vacinação da comunidade escolar, várias pessoas irão se contaminar, algumas pessoas ficarão em estado grave e alguém irá morrer, só não sabemos quem. Para nós, esse é um risco alto demais, não aceitamos perder nenhuma vida.

    Como todo mundo, nós estamos exaustos/as, cansados/as da pandemia e cansados/as do isolamento. Sabemos também o enorme sacrifício que nossos/as estudantes fizeram para conseguir cursar as atividades escolares à distância durante o ano de 2020. Por isso mesmo cobramos que a Secretaria de Educação e o Governo do Estado de Santa Catarina GARANTAM O ACESSO À INTERNET PARA ESTUDANTES DE ESCOLA PÚBLICA DE BAIXA RENDA. É possível assegurar o direito fundamental à educação sem desrespeitar o direito a? vida e  segurança, nossos/as estudantes têm o direito de continuar estudando de forma remota e segura.

    Compartilhamos fortemente o desejo do retorno às aulas presenciais e à “normalidade”, mas sabemos que isso precisa ser feito de forma responsável e segura, com a certeza que de, mesmo que alguns/algumas de nós se contamine, não iremos morrer por causa desse vírus. Esse tipo de segurança somente a vacinação coletiva de toda a comunidade escolar irá nos dar. É POR ISSO QUE DEFENDEMOS QUE O RETORNO DAS ATIVIDADES ESCOLARES PRESENCIAIS DEVE OCORRER SOMENTE APÓS A VACINAÇÃO DE TODA A COMUNIDADE ESCOLAR! NÃO NEGOCIAMOS VIDAS!

    Respeitem nossas vidas. Permitam que nós continuemos a ter um futuro com nossas famílias. Na Pandemia, até a chegada da vacinação em massa, o ensino seguro é o ensino remoto.

    Florianópolis, 29 de Janeiro de 2021.

    http://chng.it/YRbHJCDrRj

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