Arauz encerra campanha no Equador: “Povo está farto de traidores”

Candidato Andrés Arauz. Foto: Facebook

A três dias das eleições presidenciais no Equador, marcada para domingo (7), o progressista Andrés Arauz, candidato da Revolução Cidadã encerrou sua campanha com um comício, nesta quinta-feira (4), na capital, Quito. “Um único turno” foi um dos slogans mais repetidos por seus apoiadores. Candidatos à Assembleia Nacional também se juntaram ao presidenciável.

Na atividade, o público ouviu uma mensagem de apoio gravada pelo ex-presidente Rafael Correa. Na sequência, Arauz discursou. “Este 7 de fevereiro vai garantir um voto contundente em um único turno”, afirmou ele, no palco do comício. “O povo equatoriano está farto de traidores e não suportará mais uma traição. Juro lealdade total ao projeto de Revolução Cidadã.”

O candidato lembrou os três grandes eixos da sua proposta de governo:  trabalho, dignidade e futuro. “Sabemos que estamos em uma crise muito difícil – um momento mundial em que enfrentamos uma pandemia. Mas o que posso garantir é que nunca sacrificaremos a dignidade de nosso povo”, afirmou. “Nossa prioridade será sempre o povo equatoriano.”

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Ameaças à esquerda marcam última semana da campanha presidencial no Equador

O comício aconteceu no mesmo local onde em fevereiro de 2019 ocorreu o epicentro do levante indígena e popular, que se opôs ao acordo imposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em especial o aumento do preço da gasolina, que pretendia apresentar o governo de Lenin Moreno. Uma das feridas daquela época foi Jahaira Urresta, que perdeu um olho com a repressão e agora é candidato ao Legislativo.

“Desde o início da pré-campanha, sofremos ameaças. Buscam uma forma de prejudicar as eleições ou, de uma forma ou de outra, até cancelar a votação. Nosso apelo é aos organismos internacionais, para serem fiadores e observadores”, disse Urresta no ato.

Parte das ameaças ao processo eleitoral apontadas por Arauz e por seu candidato a vice, Andrés Rabascall, gira em torno do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Por isso, ao final do evento, ao qual compareceram delegações de várias partes do país, houve uma caravana que avançou no início da noite até a sede do conselho eleitoral.

Uma das irregularidades relatadas é, por exemplo, a dificuldade de votar em vários países estrangeiros . Assim, na mesma quinta-feira, ocorreu um protesto em frente ao consulado equatoriano na cidade de Nova York, onde foram denunciadas a falta de observadores necessários para as seções eleitorais e a decisão da CNE de que a contagem dos votos ocorresse no Equador, e não na mesa de votação.

Pouco antes do início do ato pró-Arauz, seu adversário Guillermo Lasso encerrou sua campanha em Guayaquil, ponto decisivo para as eleições de domingo. Na véspera, ele tinha ido a Quito, outro dos epicentros necessários para ter acesso à presidência. Lasso, ex-presidente do banco Guayaquil e atual acionista, acusado de possuir inúmeras contas no exterior, propõe, entre outros pontos, deixar para trás a Constituição aprovada em 2008, ou seja, no primeiro mandato de Correa.

A maior parte das pesquisas mostra Lasso – que já perdeu em 2013 e 2017 – em segundo lugar, atrás de Arauz. A diferença entre eles é de mais de dez pontos percentuais. Tudo indica que Arauz pode, sim, atingir os 40% dos votos válidos – índice necessário para conquistar a vitória já no primeiro turno. Há, porém, um elevado percentual de indecisos, próximo a 20%, que pode impactar o resultado final.

Ainda assim, a possibilidade de uma vitória do candidato da Revolução Cidadã já se traduziu em diversos ataques a ele na mídia, principalmente nas redes sociais. A ofensiva contra Arauz parte, em boa medida, do próprio conglomerado de Lasso, que preside a fundação Equador Livre. A instituição integra a Rede Atlas, que reúne cerca de 500 fundações de direita no mundo a serviço dessa guerra híbrida.

O Equador vai às urnas depois de quatro anos que significaram uma capitulação vergonhosa do governo Lenin Moreno. Em vez de continuar com o projeto de revolução cidadã – para o qual foi eleito –, Moreno firmou um alinhamento irrestrito com os Estados Unidos e conduziu um processo de abertura neoliberal, perseguição política, judicial e midiática contra  as forças que o levaram à presidência, e um.

As consequências de sua política tornaram-se dramaticamente visíveis não só na repressão de 2019, quando um levante que durou uma semana enfrentou uma truculenta repressão militarizada. Moreno também fracassou no combate à pandemia de Covid-19, deixando que sua gestão fosse marcada por imagens como a de cadáveres nas ruas de Guayaquil, o colapso dos hospitais e a falta de resposta do governo.

Atualmente, diante da segunda onda da pandemia que atinge o Equador, as respostas em relação às vacinas têm sido insuficientes – apenas 8 mil doses da empresa Pfizer foram adquiridas no final de janeiro. Ainda há poucas informações sobre seu processo de aplicação e a continuidade do plano de vacinação.

O domingo será, então, um ponto de inflexão para o futuro do Equador. De um lado, há o aprofundamento do modelo neoliberal, que agora será jogado pela mão de um banqueiro. Em contrapartida, os equatorianos podem ter a volta, renovada, das políticas promovidas pelos governos Correa, que permanecem na memória popular como anos de estabilidade e crescimento, apesar das campanhas na mídia.

Com informações do Página 12

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