Por Roberto Antonio Liebgott, para Desacato. info.
As pesquisas divulgadas pelo Datafolha em 21 de janeiro, acerca da popularidade de Bolsonaro, demonstram que o Brasil se subdivide em 32% de quem o aplaude, 40% o rejeitam e os demais assistem ao caos com indiferença. De todo modo, os dados são suficientes para que o parlamento e os setores das elites econômicas mantenham o Bolsonaro navegando em águas relativamente calmas.
E, nesse contexto, a dor, o lamento, as lágrimas e as mortes parecem não comover as autoridades e uma significativa parcela da população. Agem com insensatez, estupidez e desprezo pela vida. Promovem o desespero e a insegurança quanto ao futuro.
O presidente, com seus generais, cabos e soldados, combate a inteligência, a ciência, a razão e coloca no lugar a farsa, a cloroquina e as covas a céu aberto.
Os congressistas, em tempos de uma pandemia avassaladora, retiraram-se para o recesso e assistiram, de seus confortáveis cômodos, o desrespeito pela vida e o desmantelamento da administração pública. Os tribunais, com seus magistrados em férias, abriram as portas para as demandas que recaíram aos plantonistas e estes, não raras as vezes, julgaram o desnecessário e acabaram, sem dolo ou culpa, sendo auxiliares da engrenagem estatal que gira em direção ao genocídio.
A população, visitada pelo vírus da morte, se dividiu entre a farra, os hospitais e os cemitérios. Os novos prefeitos e vereadores foram empossados e durante seus discursos prometeram que cumpririam as promessas de campanha e, desde logo, agiram promovendo o desserviço, relativizando o isolamento social, dando crédito ao comércio. Praias, bares, festas clandestinas, shoppings, aglomeraram multidões e foi por onde a nova “cepa” – mutação do vírus – tornou-se inevitável, contagiosa e mortífera.
A vacina, já em uso pelo mundo, aqui no Brasil foi denominada, por aqueles que deveriam fornece-la a todos, como um produto supérfluo e passou a ser desacreditada, desqualificada e demonizada. A rejeição à vacina é proporcional a aceitação do governo. As pessoas mais humildes e pobres, as comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas foram bombardeadas por notícias falsas, as tais fake news, onde se dizia que a vacina foi inventada para exterminar e não salvar as pessoas. As Igrejas fundamentalistas reproduziram, desde seus púlpitos, esse discurso para as pessoas humildes, amedrontando-as. Não bastava o vírus da morte, agora chegou também a vacina para acabar com os pobres, com os velhos, com os indígenas. Enquanto isso, em vários municípios, os ricos e aburguesados furaram a fila e ocuparam lugar de médicos, idosos e de grupos vulneráveis para se vacinarem com antecedência.
E, neste ambiente social, as pessoas adoentadas foram sendo amontoadas dentro dos hospitais, onde agonizaram sem oxigênio, onde os profissionais da saúde permaneceram extenuados, horrorizados diante do sofrimento, da dor, da falta de remédios e pela precariedade das infraestruturas.
Os governantes, ao invés de cumprirem com suas obrigações, utilizaram-se da desinformação como ferramenta de controle. A mentira, nesse contexto de perda da razão e da solidariedade, tornou-se a ilusão de cura dos males e seus propagadores vistos, por muitos, como messiânicos.
O país, nesses dois últimos anos, foi lançado no abismo político, econômico, social e sanitário. Nele parece afundar-se também as alternativas de sociedade, de um outro mundo possível, repleto de solidariedade, justiça e respeito.
O governo brasileiro, que perante o mundo tornou-se um pária, em nosso solo vem tendo uma estranha boa aceitação. É tolerado por aqueles que pensam como ele, porque dele se servem ou pelo fato de representar o desprezo ao bem comum, a justiça, a verdade e a vida.
O ambiente político, apesar de caótico e somado as pesquisas de popularidade – baixa – do governo, ajudarão a manter o Bolsonaro como inquilino do Palácio do Planalto.
Porto Alegre, RS, 26 de janeiro de 2021.
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Roberto Antonio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.