O governo federal afirmou, neste domingo (17), por meio de um ofício, que foi informado do desabastecimento de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro, oito dias antes de vários hospitais do município entrarem em colapso por falta de estoque do material, em 14 de janeiro.
A informação consta em explicações oficiais enviadas pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido do ministro Ricardo Lewandowski.
De acordo com a AGU, a White Martins, fornecedora de oxigênio hospitalar na capital do Amazonas, avisou o governo estadual, em 7 de janeiro, que “o imprevisto aumento da demanda ocorrido nos últimos dias agravou consideravelmente a situação de forma abrupta”. No dia seguinte, o Ministério da Saúde foi comunicado por e-mail.
Inicialmente, a reação do governo foi anunciar o reforço no estoque de oxigênio, com o envio de 350 cilindros a Manaus, entre 8 e 10 de janeiro. O governo do Amazonas confirmou o recebimento de 373 bombas de infusão de oxigênio, em 11 de janeiro, mas relatou que a quantidade só era suficiente para 70 dos 2,7 mil pacientes internados por covid-19 no estado.
No mesmo dia, três dias antes do colapso, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi a Manaus. Já com hospitais lotados e com um número crescente de casos de covid, ele tentou passar tranquilidade, discursando sobre tratamento precoce contra o coronavírus (o que não existe, segundo cientistas) e garantindo que a pasta estava preparada para atender “qualquer demanda que falhe em nível menor, município ou estado”.
Aviões da FAB
Em 14 de janeiro, no entanto, Pazuello admitiu, em reunião com prefeitos, que não havia aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) disponíveis para transportar oxigênio para o Amazonas.
Confuso, ele mudou o discurso na noite do mesmo dia, em uma transmissão ao vivo ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na ocasião, disse que os aviões com oxigênio já estavam a caminho de Manaus e que o problema por lá eram as chuvas e a falta de tratamento precoce contra a covid – de novo contrariando a ciência.
Na justificativa ao STF, o governo federal alega ainda que o aviso da White Martins foi tardio e que os órgãos federais “empregaram toda a diligência possível para contornar a situação”.
A AGU ainda afirmou que repassou “um volume extremamente significativo de insumos estratégicos e de recursos financeiros” ao estado do Amazonas e que “jamais deixou de oferecer canais de interação”.
Transferências
Em razão do colapso de oxigênio, o governo do Amazonas afirmou ter feito a transferência de mais 12 pacientes hospitalizados de Manaus para Natal (RN), na noite de domingo. Com isso, o número total de pacientes transferidos para outros estados passa a 74.
Além de Natal, foram levados pacientes para João Pessoa, Teresina, São Luís e Brasília. A expectativa do governo é de transferir, ao todo, 235 pacientes para outros lugares.