Aristóteles

Por Luciane Reciere.

Era aqui que se fazia que pensava quanto mais sonhava. E sonhava. Só percebia quando os absurdos ficavam mais absurdos. Na lógica, o absurdo é o conjunto de coisas que não se escuta. Leva a uma negação e daí eu vejo o Paulo Ferreira falando em grego e os aviões da Air Qatar voando pesado e eu querendo estar longe. Proposições que levam inevitavelmente a uma negação de alguma das proposições anteriores que eram consideradas como verdadeiras. Exemplo: e desenhava na lousa um conjunto, um subconjunto e enchia de pontos e eu transformava em focinho de cachorro e xingava todas as gerações do Aristóteles, maldito. Eu, a namorada do Ari e olhava pro Aymberé e via que ele desenhava. A Maria desenhava, mas havia um lá que parecia o Lester do Mundo de Beakman que fazia perguntas. E eu pensava: quem está errado? Cinco minutos passados e um sentimento de a maior impotência do mundo. E a camisa do professor parecia feita de sulfite, sem nenhum, mais nenhum amarrotado. E eu pensava que não serviria nem pra pendurar aquela camisa sempre cinza-claro no cabide. E ele nem pesava 50 kg, mas parecia não sentir frio e eu escrevia Alien… Alien. O avião passava – tecla mute e ele dublando em grego. Queria a tecla sap. Como desliga o professor? Tecla power. Com todo respeito senhor professor de 30 anos, você sabe, a gente é que não alcança sua sapiência. E o Renato punha a ponta da Bic na boca. A Clara viajava. Eu me desesperava e fazia que pensava nas proposições… A ? negação de B, 2. B, 3. A, dado 3 e 1, se chega a “negação de B” que é a negação da proposição 2. Mas daí um dia apareceu a Lilian Santiago e Ari virou arte. E eu tirei 9,7. O ano acabou. E lembro do Air Qatar, dorso branco feito uma arraia em cima da minha vida pouco significativa.

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