Por Gabriel Valery.
O Brasil ultrapassou as 180 mil mortes por covid-19. Nas últimas 24 horas foram registradas 672 mortos, totalizando 180.437 vítimas. Já o número de infectados chegou a 6.836.227, após um salto de 54.428 mil novos casos no último período. As informações são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), em boletim divulgado ontem (11). É o maior número oficial de novas infecções desde o dia 12 de agosto, quando o país vivia seu pior período do surto, que começou em março.
As curvas médias de sete dias seguem em acentuada elevação. Em relação aos casos, o cenário já se equivale ao período de maior pico. Já em relação às mortes, os números se aproximam dos do início de outubro, quando as taxas começaram a apresentar tendência de queda e estabilização, apesar de patamares elevados.
A semana que se encerra neste sábado (12) tende a ser a de maior número de vítimas oficiais desde a primeira de outubro, quando foram registrados 4.213 mortes nos sete dias. Sem os números de amanhã, já são 3.809 vítimas. A semana passada registrou 4.067 mortes, e pode ser batida caso o sábado registre número acima de 258. Isso, sem contar a ampla subnotificação, já que o Brasil é um país que aplica poucos testes de covid-19 em relação à população.
Sem planos
Com a alta na média de mortes, evidenciada pelas curvas epidemiológicas, o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino alerta para a consequência da falta de planejamento e o atraso na elaboração de planos concretos de vacinação por parte do governo de Jair Bolsonaro. “Voltamos a uma média móvel de 650 mortes por dia. Nessa toada, que ainda aumenta, um mês de atraso para começar uma campanha de imunização nacional são pelo menos 20 mil vidas. São mais sequelados. São mais empresas fechadas e empregos perdidos. É mais defasagem de ensino.”
Atila também criticou a postura negacionista do governo, que desde o início do surto minimiza a doença, se esquiva de qualquer responsabilidade segue propondo soluções como a cloroquina, que não tem eficácia comprovada contra a covid-19 e já foi banida de protocolos de tratamento em diversos países. “Priorizamos bares e não escolas; aparelhamento e não especialistas; cura mágica e não vacinas; aglomeração e não pesquisa. Educação, ciência, saúde e vidas não são prioridades no Brasil”, afirmou.
Fim de ano
Diante deste cenário crítico de crescimento da propagação do vírus, especialistas temem o pior para o futuro próximo. Isso, porque o fim de ano é marcado, tradicionalmente, por aglomerações. Férias escolares, compras de Natal, os festejos entre famílias e amigos e as comemorações de ano novo devem agravar a situação da covid-19 no Brasil.
Para o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz no Amazonas (Fiocruz-AM) Jesem Orellana, o horizonte é preocupante. “O fim do ano está aí. Temos uma expectativa, infelizmente, negativa para as próximas semanas. Isso devido ao período que leva a muitas aglomerações. Certamente vai ampliar o número de expostos, de infectados e, fatalmente, de mortos. Isso já em dezembro e, mais provavelmente, em janeiro de 2021”, afirma.
Já para o restante do ano, existem perspectivas positivas em relação à vacinação. Entretanto, a falta de planejamento e ações concretas do governo federal deixa o país sem saber de fato como será o processo de imunização. “Vamos entrar em janeiro de 2021 com um clima muito desagradável. O cenário muda ao longo do ano em função das vacinas. Mas não sabemos até que ponto o Brasil será beneficiado, menos ainda em locais isolados. Muitos estados também seguem a linha do governo federal de fazer promessas, discursos televisivos, mas sem nenhum tipo de ação efetiva”, critica Jesem.
O epidemiologista lembra que os problemas logísticos em um país continental são enormes. “A campanha de vacinação será um desafio e nada se fala. No Amazonas, por exemplo, temos municípios com mais de 100 comunidades ribeirinhas. Temos um desafio logístico enorme. É fundamental uma ação concatenada entre os três níveis de gestão – federal, estadual e municipal. Sem essa articulação, não vamos ter expectativa de vacinação em massa efetiva no Brasil.”