Conhecida como polo de desenvolvimento regional, Blumenau ostenta o título de cidade líder na geração de empregos em Santa Catarina. Ocupa a 13° posição no ranking nacional.Os números propagados com ênfase pela prefeitura colocam o munícipio como recorde na criação de vagas de emprego formal do Estado, com base nos dados do primeiro trimestre do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Mas as estatísticas oficiais escondem uma realidade que pede reflexão: a média do salário do trabalhador hoje em Blumenau é pouco mais que dois salários mínimos (R$ 1.429,02). Dos 128 mil trabalhadores formais do município, 92.691 (71,92%) deles recebiam até 3 salários mínimos em 2010. A grande massa dos trabalhadores ainda é mal remunerada: a maior concentração de trabalhadores está na faixa de 1,51 a 2 salários mínimos (25,90%).
A geração de empregos na cidade está distribuída por diferentes setores da economia, da indústria de transformação (têxtil, vestuário, metalmecânico, etc), a administração pública e servicos (educação, transporte, alimentação). Mas a constatação dos baixos salários ganha peso quando pende para a avaliação das vagas geradas.
De janeiro a marco deste ano, o cargo que registrou a maior quantidade de vagas abertas no SINE de Blumenau foi o de auxiliar de produção, com um salário médio de R$ 800. Em abril, a maior parte das vagas foi para a construção civil, incluindo cargos como carpinteiro, pedreiro e servente, com salário médio de R$ 1200. A remuneração passa longe dos R$ 2,3 mil considerados como salário mínimo necessário pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
– Isso é uma dinâmica do próprio capitalismo. Infelizmente, no Brasil, ainda como país terceiro mundista, a massa salarial da população ainda e baixa. Blumenau não foge à regra. A melhoria da qualidade das condições de trabalho e de salário é resultado de uma luta social e cotidiana – analisa o professor e chefe do Departamento de Economia da Furb, Sidney Silva.
Para o professor, o quadro segue a chamada lógica de mercado dentro da sociedade capitalista: as negociações salariais são feitas diretamente entre trabalhadores das classes trabalhadora e patronal. O Estado se omite, sua única função é regular o salário mínimo. No geral, os salários são definidos a partir da oferta e da procura.
O diretor de Desenvolvimento Econômico da prefeitura, Sylvio Zimmermann, atribui a alta geração de empregos na cidade à crença do trabalho estar no “DNA de Blumenau”, fortalecendo a ideia de que o crescimento econômico está ligado a fatores culturais quase intrínsecos ao povo daqui:
– Temos um pano de fundo sócio cultural que ajuda a fomentar o índice de geração de empregos assim como os elevados índices de empregos formais – analisa.
A responsável pelo SINE em Blumenau, Sandra Regina Alves da Silva Schatz, lembra que a maioria das vagas geradas são de reposição e apenas 30% de ampliação do quadro. Em média, o SINE tem 130 vagas ativas disponíveis por dia, principalmente na área do comércio e auxiliar de produção.
– A maior parte das vagas nao exige tanta qualificação. E a chamada “vontade de trabalhar” o que conta. Mas no processo final, os empregadores buscam os mais qualificados – lembra Sandra.
Mas o aspecto mais triste deste “boom” de empregabilidade são as condições de trabalho. Boa parte dos trabalhadores é obrigada a trabalhar em horários de escala, com isto não se respeitam mais finais de semana, feriados, horários de trabalho, etc. Conseguem passar apenas um final de semana por mês com a família.
Os desajustes familiares e sociais são evidentes. O crescimento dos empregos por aumento da jornada de trabalho (finais de semana, feriados) é pago com a perda de afeto e convívio no ambiente familiar (muitos acham que não precisam mais amigos e familiares “presenciais”, porque tem muito mais amigos virtuais nas redes sociais).
As estatísticas referentes à geração de empregos atraem e explicam facilmente o visível fluxo migratório para a cidade. O crescimento nos empregos também está relacionado com a catástrofe de 2008, porque foram liberados milhões do FGTS e foram feitos vários investimentos públicos e privados em obras de recuperação. Tudo isto causou um efeito multiplicador na renda expandindo as atividades econômicas na região.
Os números de geração de empregos na cidade escondem ainda facetas pouco discutidas: as condições de trabalho e a saúde dos trabalhadores. Pesquisa coordenada pela professora Elsa Bevian a fim de criar um banco de dados em saúde do trabalhador em Blumenau aponta que entre 2005 e 2010 foram registrados pelo CEREST 31.682 atendimentos cadastrados como acidentes de trabalho. Do total, 54% dos acidentes registrados acontecem nos dois primeiros anos de contrato de trabalho e 16% nos tres primeiros meses de contrato. Dados recolhidos no INSS no mesmo período revelam que, em média, 10% dos trabalhadores com emprego formal, sao afastados todos os anos devido aos acidentes de trabalho.
A constatação pede uma reflexão sobre os empregos gerados e a mudança de postura para a cidade ser referência na qualidade de vida, como diz a propaganda da prefeitura que divulga a cidade como a melhor para se viver em Santa Catarina.