O dia de ontem (10.11) foi de grandes manifestações em diversas cidades peruanas em protesto contra a investidura do presidente do Congresso, Manuel Merino, no cargo de presidente da nação. Na segunda-feira, em uma sessão de oito horas, os parlamentares decidiram por destituir o presidente Martín Vizcarra alegando incapacidade moral para seguir governado, visto que responde por acusações de corrupção. O processo foi, de certa forma, surpreendente, porque o mesmo Congresso já havia julgado um primeiro pedido de afastamento, e negado. De qualquer forma, deputados mudaram o voto e defenestraram Vizcarra. Merino assumiu no dia seguinte e já mostrou a que veio. Diante dos protestos, colocou a repressão nas ruas, amealhando prisões e feridos.
A posse de Merino estava marcada para as 10 horas e desde as nove já havia gente nas ruas, apesar do estado de emergência convocado por conta da Covid-19. Manifestações aconteceram em Lima, Huancayo, Trujillo, Arequipa, Chiclayo e Iquitos. Entre as palavras de ordem estavam: “Merino, escuta, o povo te repudia”e “Fora Merino”. Na capital a concentração foi justamente em frente ao Parlamento onde acontecia o juramento do presidente investido. A polícia cercou o local e o conflito foi inevitável. Bombas de gás e balas de borracha não faltaram enquanto os manifestantes jogavam pedras. Várias pessoas foram presas.
No começo da noite, novamente a população se concentrou na Praça San Martín e novos embates aconteceram. Os manifestantes deixaram claro que não estavam em luta pelo presidente deposto, mas contra a forma como o processo aconteceu. Segundo eles a decisão do Congresso não foi democrática e o que comandou foram interesses escusos dos grupos políticos que dominam o país. A surpreendente virada de votos contra Vizcarra por parte de parlamentares que vinham sendo contra o afastamento sinalizou que algo foi negociado, e de maneira muito obscura. A população que acorreu às ruas rejeita completamente o Congresso peruano, ao qual acusa de ser tão corrupto quanto Vizcarra. Os manifestantes temem que Merino não chame as eleições que estão convocadas para abril de 2021.
O grito nas ruas é de que “se vayan todos”. A candidata à presidência pela coligação Juntos pelo Peru, Verónika Mendonza, declarou na sua conta de Twitter: “Já não há nada que esperar desta classe política que está podre. Somente a cidadania organizada e mobilizada poderá recuperar a democracia e colocar em primeiro lugar a vida e a dignidade da população”.
Ya no hay nada más que esperar de esta clase política que está podrida. Solo la ciudadanía organizada y movilizada podrá recuperar la democracia y poner por delante la vida y la dignidad de la gente.#VacarlosATodos pic.twitter.com/rmMwlAmn48
— Verónika Mendoza (@Vero_Mendoza_F) November 10, 2020
Manuel Merino, do partido de centro-direita Ação Popular, é o terceiro presidente da legislatura. Ele foi eleito para o parlamento com apenas cinco mil votos e tem sido chamado pelos manifestantes de “usurpador”. Vizcarra, o deposto, apareceu ontem muito tranquilo diante da imprensa dizendo que agora vai preparar com cuidado a sua defesa em um processo que o acusa de corrupção quando era governador de Moquegua.
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Elaine Tavares é jornalista.
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