Após o anúncio feito pelo presidente peruano Ollanta Humala, no início da semana, informando que garantiria a instalação do projeto mineiro Conga em Cajamarca, mais de 20 organizações, federações, sindicatos e paróquias se manifestaram por meio de uma carta aberta repudiando a decisão. Os ativistas se declararam em resistência pacífica permanente pela vida e a dignidade até que seja garantida a inviabilidade do projeto.
No dia 31 de maio as organizações pretendem realizar uma jornada de mobilizações pacíficas em todo o departamento de Cajamarca, que se prolongará até que o presidente ouça as reclamações populares sobre a inviabilidade de Conga.
Na carta aberta, as organizações deixam claro que longe de aceitar a proposta de Ollanta de garantir a quantidade, disponibilidade e qualidade da água para toda Cajamarca, o que a população deseja é o fim da imposição de projetos mineiros na região e no lugar disto o investimento em atividades sustentáveis como agricultura, pecuária, piscicultura, turismo, reflorestamento e artesanato.
No documento, pedem que o presidente cumpra suas promessas de campanha e não dê continuidade às políticas excludentes, centralistas e depredadoras dos recursos naturais da região. Pedem, principalmente, que Ollanta pare com a destruição das fontes de recursos hídricos e lembram que a Yanacocha, empresa responsável pelo Projeto Conga, já destruiu inúmeros rios, mananciais e lagoas, como San José, Maqui Maqui, Totorococha Chica, Patos e Corazón, para citar apenas algumas.
Essa insistência em impor projetos depredadores do meio ambiente e sem o consentimento da população local marcou os últimos 20 anos de história de Cajamarca com lutas e resistência, postura que deverá ser mantida. Uma das iniciativas que já está em andamento é a vigilância cidadã feita pelas Rondas Campesinas e batizada de ‘Guardiões das Águas’. A tarefa é vigiar, de maneira permanente, as lagoas para não deixar que empresas mineiras possam destruí-las.
Outro ponto abordado na carta foi o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Projeto Conga, aprovado ainda no governo de Alan García e periciado recentemente para analisar sua viabilidade. As organizações afirmam saber a intenção da perícia.
“Você, senhor Presidente, também sabe que a perícia atual não foi feita para estudar seriamente se o projeto Minas Conga poderia ser viável ou inviável porque os termos de referência impostos pelo empresário mineiro Oscar Valdés, que é agora seu primeiro ministro não exigiam isso, mas apenas pediu para formular recomendações para melhorar as medidas de mitigação propostas pela empresa mineira em seu questionado Estudo de Impacto Ambiental”, denunciam.
As Rondas Campesinas, frentes de defensa, grêmios sindicais e demais redes que assinaram a carta aberta endereçada a Humala também rebatem as críticas de meios de comunicação que acusam as organizações sociais de serem manipuladas e avessas a qualquer tipo de investimentos e atividades mineiras. A verdade é que a reclamação não é pelo fim das atividades mineiras, mas sim pelo desenvolvimento sustentável de Cajamarca e a implantação de novas políticas de Estado que permitam que a mineração sirva ao desenvolvimento do país e não “que o país inteiro siga sirva aos interesses mesquinhos das poderosas empresas mineiras”.
A carta se despede reafirmando que a população não permitirá a repetição “da história odiosa do ouro em Cajamarca”, pois agora o povo tem consciência do destino de sua história e acredita na força da verdade e da justiça que defendem. “Não permitiremos que queiram novamente nos escravizar. Conga é inviável!”, encerram.
Fonte: Adital.