Minerva, El Che e John Lennon. Por Urda Klueger

Foto: Alberto Korda

Diário da Pandemia – dias 208 e 209

08 e 09.10.2020 – Quinta e sexta-feira – por Urda Alice Klueger
Hoje, há noventa e nove atrás, nascia minha mãe, Minervina Klueger, na localidade de Nova Descoberta, município de Tijucas/SC, caçulinha de um total de 5 irmãos. No dia em que ela completou quarenta e seis anos, assassinaram o argentino Che Guevara, na Bolívia. Eles não se conheceram nem nunca souberam um do outro, embora minha mãe tivesse grande respeito pelos médicos e o Che se importasse muito com as gentes pobres e sofridas deste mundo. Fazíamos parte da classe trabalhadora, e minha mãe muito e muito trabalhou por toda a vida, e me lembro dos verões sofridos dela, em pleno calor, fritando filé de peixe, camarão à milanesa e batata frita por dias inteiros atrás de grandes fogões à lenha. Criei-me um pouco ao calor desses fogões, principalmente nos verões, época de férias escolares, quando ajudava meus pais no restaurante deles, fazendo muitas coisas, inclusive lavando montanhas de louça de porcelana branca usadas pelos nossos clientes, do lado oposto do fogão aonde a minha mãe ficava.
O pensamento que eu levaria para o resto da vida formou-se nesse tempo em que lavava tanta louça, minha mãe fritava tanto e o Che era assassinado, e ele veio de diversas vertentes que se harmonizavam, e hoje, na sala da minha casa, três delas estão num quadro que como que traduz meu pensamento: John and Yoko, Antoine de Saint Exupèry e o Che. Bem hoje, quarenta anos depois de ter sido assassinado, 13 anos depois do assassinato do Chê, 99 anos depois que a minha mãe nasceu, John Lennon recebeu o Prêmio Nobel da Paz deste 2020. Acho que fui muito bem acompanhada pela vida afora: pela tenacidade da minha mãe por detrás do fogão quentíssimo, pelos ideais internacionalistas do Che e pela mensagem de paz de John Lennon (and Yoko). De sobra, a ternura de Saint-Exupèry e do seu Pequeno Príncipe que, penso, juntava todos os demais. Jesus Cristo também andava na turma, e minha vida orientou-se por coisas assim:
– Amai-vos uns aos outros como eu vos amei;
– Se ficas indignado por qualquer injustiça feita a qualquer ser humano em qualquer lugar do mundo, então somos irmãos;
– Tu te tornas inteiramente responsável por aquele que cativas;
– e uma música que diz coisas assim:
Imagine
Imagine que não existe paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno sob nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo o presente
Imagine que não há países
Não é difícil de fazer
Nada por que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Tenho esperança de que um dia você se unirá a nós
E o mundo será um só
Imagine que não existe propriedades
Será que você consegue?
Sem ganância ou fome
Uma fraternidade do Homem
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo inteiro
Você pode dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Tenho esperança de que um dia você se unirá a nós
E o mundo será um só”
Com muita emoção, lembro daquele Fórum Social Mundial, lá em Porto Alegre, quando estava para começar a Guerra do Iraque, e da imensa multidão cantando em uníssono “Imagine”. John Lennon, querido e amado, que bom que cruzaste meu caminho no tempo certo! Acredito e vou acreditar sempre naqueles ideais que me chegaram lá enquanto adolescia. Quisera ser possível dar-te um graaaaaaaaande abraço de parabéns. É bom demais saber que o prêmio Nobel da Paz também pode sair para pacifistas! Em algum lugar do universo, o Che e minha mãe devem estar te aplaudindo!
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#Desacato13Anos                #SomandoVozes
Estreia domingo, 11 de outubro, 19 h: “De fora nem a pau”.

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