O julgamento do jornalista australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, foi retomado ontem, segunda-feira (14) após quatro dias de suspensão.
As audiências foram paralisadas porque um dos integrantes da promotoria afirmou estar com sintomas de covid-19, na quinta-feira (10). Mas exames apontaram que o promotor não está com a doença. Com isso, foi possível retomar os trabalhos no tribunal.
No primeiro dia de recomeço, o advogado Eric Lewis, que trabalha na defesa de Assange, afirmou que o ativista provavelmente terá acesso “severamente limitado” a seus defensores e a documentos caso seja extraditado para os Estados Unidos.
Segundo ele, há provas de que o jornalista enfrentaria uma possível sentença de 175 anos se for condenado por todas as 18 acusações que enfrenta, apontando que, nos Estados Unidos, “as sentenças são mais longas do que em outras partes do mundo”.
“Juristas e outros observadores expressaram a opinião de que, se for bem-sucedido, o governo pressionará para que Assange seja punido em toda a extensão da lei”, disse ele.
Lewis reforçou que, por ser acusado de espionagem, se for condenado Assange estará sujeito a “restrições significativas além do réu criminal médio nas prisões federais dos Estados Unidos, e não poderia contestar seu regime e suas severas restrições”.
O caso
Julian Assange tornou públicos diversos crimes de guerra cometidos pelo Exército norte-americano nas invasões ao Iraque e ao Afeganistão. Por isso, pode responder por espionagem e conspiração nos EUA. Ao todo, são 18 acusações, que podem render uma pena de 175 anos ao jornalista. Autoridades americanas teriam dado garantias verbais ao Reino Unido de que Assange não corre risco de ser condenado à pena de morte, nos EUA.
Juristas consideram remota a possibilidade de absolvição de Assange na Corte estadunidense. Por conta disso, o julgamento no Reino Unido passa a ser fundamental.
Para a defesa de Assange, liderada pelo espanhol Baltazar Garzon, o que está sendo julgado não é o exercício da espionagem, mas a liberdade de imprensa. O jornalista australiano fundou, em 2006, o WikiLeaks, site que ficou conhecido mundialmente em 2010, quando publicou uma série de provas vazadas por Chelsea Manning, analista de inteligência do Exército dos EUA. À época, o conjunto de imagens e documentos escancarou atrocidades cometidas pelos estadunidenses durante as invasões no Iraque e no Afeganistão.
Histórico
Desde 2012, Assange se abrigava, na condição de asilado político, na embaixada do Equador em Londres. Porém, em 11 de abril de 2019, o presidente equatoriano Lenín Moreno surpreendeu o mundo ao revogar o benefício e entregar o australiano às forças policiais britânicas.
Assange procurou a embaixada equatoriana após a Suécia pedir sua extradição em 2012. O jornalista era acusado de ter cometido um estupro no país nórdico. A acusação foi retirada pelo governo sueco em 2017, mas o australiano, com receio de ser enviado aos EUA, se manteve no consulado.
Edição: Rodrigo Durão Coelho.