#Editorial – A derrota do Brasil estampada no teleprompter

Leitores e leitoras do Portal Desacato e audiência do JTT Agora, bom dia.
Os dois minutos e 56 segundos da fala do presidente do Brasil não poderiam representar melhor o que somos e o que deixamos de ser. Protocolar, leu com a dificuldade habitual o teleprompter, que era perseguido pelos seus olhos como se fosse uma mosca inoportuna.
Bolsonaro expressou o que alguém escreveu para ele. Monótono só mudou o tom quando falou da ameaça comunista. O nazismo e o fascismo foram lembrados de passagem, rapidamente, quase como pedindo desculpas pela ofensa aos pensamentos mais íntimos do “mito”.
O presidente repetiu as frases declamadas pelos livros de história escritos pelos amanuenses das elites. Mencionou sem fervor uma independência que nunca termina de ser definitiva. Uma independência meia-boca que ele mesmo fez regredir aos piores momentos de entrega da soberania nacional. Essa independência que só existe para as oligarquias, para os banqueiros e para os amigos do monarca e as transnacionais.
Falou da miscigenação, mas não falou uma palavra das crianças e jovens negros que o Estado assassina ininterruptamente neste país desigual, onde não ser branco torna o cidadão negro e indígena em alvo da bala assassina da ganância e da discriminação.
Discursou sobre o sangue derramado pela liberdade e disse que “vencemos ontem, estamos vencendo hoje e venceremos sempre.” E mentiu, porque raras são as vitórias da imensa maioria do povo brasileiro. Venceram as elites, os latifundiários, os grandes industriais, a FIESP, a corrupção protegida pelo poder judiciário. Venceram os donos dos balcões de negócio que usam o Congresso Nacional para seu benefício próprio e que hoje estão vivendo sua panaceia, porque seja pela Bíblia ou pela bala, o congresso não pertence definitivamente ao povo.
Não vencemos porque entregamos o país aos interesses internacionais e imperiais desde os primórdios. Porque retornam os Estados Unidos a ocupar o território nacional em Alcântara. Porque Bolsonaro está oferecendo a preço de banana o que resta do patrimônio nacional. E porque só venceremos no futuro se pudermos liberar o país do neoliberalismo genocida e ladrão; se mudarmos a correlação de forças de um congresso antipopular, se houver uma reforma do poder judiciário e se Bolsonaro não voltar nunca mais ao poder executivo depois deste mandato antipaís, antipovo, que reduz a mera anedota mais 130 mortos e 4 milhões de infectados pela Covid-19.
Tem sentido, embora seja delirante, que Bolsonaro mencione seu temor ao comunismo, única declaração verdadeira nesse discurso esquecível e que não figurará em lugar nenhum de nenhum livro de história. Não seria em um sistema socialista que se criaria uma figura tão descabida como ele, nem poderiam as elites e as potências estrangeiras saquear tanto como o fazem hoje. Isso só pode acontecer numa nação derrotada que precisa dar a volta por cima e jogar o teleprompter pela janela.
#Desacato13Anos #SemprePresente #Editorial

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