O Brasil ultrapassou a marca de 3 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e registrou mais de 110 mil óbitos pela doença. Os dados são do acompanhamento realizado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), atualizados no dia 19 de agosto. A realidade mostra que a pandemia tem cor, gênero e classe social: são as mulheres negras e pobres as mais afetadas. Sobre isso, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) promoveu, na quarta-feira (19/08), um live com transmissão ao vivo pelas redes sociais.
As análises das convidadas da live evidenciam que grupos com mais vulnerabilidades são mais expostos ao risco de contaminação, ao desemprego, à violência, à falta de acesso aos serviços de saúde e aumento da pobreza. Este foi 11º encontro do Comitê, que teve como foco os impactos do desfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e do desmonte da Política de Saúde das Mulheres.
Entre as palestrantes, a doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP) e membro do GT Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Fernanda Lopes, que falou sobre as mulheres grávidas e no pós-parto durante a pandemia.
Um estudo publicado no jornal científico International Journal of Gynecology & Obstetrics apontou que o Brasil concentra 77% das mortes de gestantes e puérperas, comparado com o restante do mundo. Nessas vítimas, “a mortalidade materna de mulheres negras por Covid-19 é duas vezes maior que a de mulheres brancas”, afirmou Fernanda. A constatação é de outro estudo apresentado pela professora, que identificou que 14% das gestantes mortas eram negras, enquanto gestantes brancas representavam 7% das mortes.
Pandemia acentua as invisibilidades
A conselheira estadual de Saúde de Roraima, Sarlene Macuxi, falou sobre a incessante luta dos povos indígenas pela garantia de direitos básicos. “Quero registrar o nosso repúdio ao retrocesso na saúde promovido pelo governo federal. Uma vez que a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres é afetada, nós também, mulheres indígenas, somos muito afetadas”.
Sarlene também falou sobre o veto do governo federal à participação da liderança Nara Baré na 3ª Semana Interamericana de Povos Indígenas, na Organização dos Estados Americanos (OEA). A liderança falaria no dia 7 de agosto, de forma virtual, sobre Covid-19 e Resiliência dos Povos Indígenas. “Não só a voz da mulher indígena foi negada nesse espaço de articulação, como fomos todos invisibilizados”, repudiou.
Na pauta das mulheres com deficiência, a invisibilidade e o isolamento social, que já faziam parte da vida de muitas, foram agravados. “O isolamento social, que é uma das estratégias para prevenção da Covid, é uma realidade imposta estruturalmente desde sempre [às pessoas com deficiência] e eu espero que não seja para sempre. Os impactos emocionais desse isolamento são muitos”, destacou a conselheira nacional de saúde pela Associação Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), Vitória Bernardes.
A conselheira também falou sobre acesso a informação que, embora seja um direito humano, não é garantido às pessoas com deficiência. “Seja por falta de intérprete em Libras, legendagem, ainda temos muito a avançar para que esse direito se concretize para todas e todos”, concluiu.
Mais participações
A conselheira nacional de saúde pela Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE), Shirley Morales, falou sobre o impacto da Covid-19 para as trabalhadoras da Saúde. “Dados do Conselho Nacional de Enfermagem mostram que mais de 80% dos profissionais de enfermagem acometidos pela Covid são mulheres e mais de 60% dos óbitos na enfermagem são mulheres”, destacou.
Vanja Andréa, conselheira nacional de saúde representante da União Brasileira de Mulheres (UBM), mediou a live. Segundo ela, o desfinanciamento na política de saúde para as mulheres se apresenta num contexto de desmonte maior. “Esse desfinanciamento vai na contramão dos princípios do SUS, que asseguram a promoção, a prevenção da saúde integral da população com equidade, integralidade e universalidade”.
Evalcilene Santos, representante do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) também mediou a live. Para ela, é preciso garantir a visibilidade das mulheres que vivem com HIV/Aids, das mulheres lésbicas e em situação de rua. “Nossa saúde está sendo negligenciada e estamos vendo um número muito grande de mulheres com seus direitos retirados. Não vamos desistir dessa luta. Vamos lutar unidas, uma segurando as mãos das outras”, destacou.
Nota pública
A live se encerrou com a leitura de uma nota pública lançada pelo CNS manifestando solidariedade à menina de 10 anos amparada pelo abortamento legal do SUS.
Editorial do dia 21 de agosto de 2020
O tempo real, o tempo político e o tempo social da Frente de Esquerda em Florianópolis